O assunto que resolvi falar a respeito é, adivinhem só, polêmico, porque envolve uma série de achismos, mas muito interessante de ser estudado, porque é em si só religioso em vários aspectos. Já que estamos às vésperas do Carnaval, falaremos sobre a Quaresma na Umbanda. Temos que ter um cuidado maior? Usar contra egum? Tapar o umbigo? Pode ou não fazer gira no terreiro? Se puder, é melhor trabalhar com a Esquerda ou com a Direita?
Inicialmente é sempre bom lembrar que a Umbanda não é uma religião cartesiana, como o catolicismo, por exemplo, onde pegamos um livro sagrado e o seguimos conforme nossas interpretações. A Umbanda é uma religião moderna, portanto não existe um certo e um errado, o que existe é algo com e algo sem fundamento. Então se esse texto apresentar os fundamentos ideais para a crença de quem ler, ok, se não, Oxalá abençoe e que o fundamento daquilo que cada um segue consiga nortear da melhor forma possível seus passos na religião.
Quaresma é algo criado pela Igreja Católica que compreende o período entre a Quarta-Feira de Cinzas e a Páscoa, e serve para o católico focar em duas coisas principais: piedade e caridade, através do jejum e da abstinência (Direito Canônico, Cân.129). Quem já pôde presenciar o ritual de início da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas sabe que é algo realmente muito bonito e envolto em uma série de mistérios. Como a Quaresma é algo que vem diretamente de interpretação bíblica (Daniel 9,3 e Mateus 11,21, por exemplo) seria natural que nossos irmãos evangélicos adotassem, à sua forma de interpretação, algo relacionado ao tema. O Doutor em Teologia, e pastor evangélico, Odalberto Domingos Casonatto, alega que a Quaresma compreendida apenas nos 40 dias entre Carnaval e Páscoa não se justifica, porque as práticas do jejum, esmola e oração devem ocorrer o ano inteiro.
Eu pesquisei bastante e descobri que não existe rigorosamente nada com consistência na literatura ou em qualquer prática cristã que fale sobre um período "mais pesado", onde o fiel será atentado pelos espíritos ou algo do tipo, ou, ainda, que exista uma provação maior ou menor ao católico. Então de onde veio a ideia que muito umbandista tem de que a Quaresma é um período de maior provação e, até mesmo, no qual espíritos obsessores são soltos par nos atentar o tempo todo? Será que a nossa Quaresma é diferente?
Para responder esta pergunta, temos que voltar a um assunto que já tratamos aqui no COCAR, que é o Holopensene, ou o famoso "Pensamento Coletivo". Se existe uma coisa que todo umbandista acredita é que o pensamento transforma para o bem e para o mal. Se uma pessoa com fé o suficiente consegue emanar pensamentos positivos de cura, então o que dizer sobre milhões de pessoas pensando a mesma coisa ao mesmo tempo, com um grande foco? Não tem dúvida: aquilo vai acontecer. E é exatamente essa a questão com a Quaresma e a Umbanda. Sabemos que a base de médiuns da Umbanda foi feita basicamente por kardecistas que se converteram; se os kardecistas ainda hoje possuem um forte vínculo com o catolicismo, na anunciação da Umbanda, décadas atrás, isso era ainda maior. É esse basicamente o motivo de adotarmos em nosso calendário, festividades e rituais católicos.
Acontece que a Umbanda é uma religião sem um direcionamento de um líder específico (não temos um Papa), então a Quaresma com o passar do tempo começou a ser vinculada em nossa religião com as provações pelo diabo que Jesus sofreu no deserto durante 40 dias. Um começou a falar isso, outro acreditou e passou pra frente e assim por diante até que passou a existir um pensamento coletivo em que isso passou a ser verdade. Só que como é que os espíritos obsessores ficaram "mais fortes" nesse período? Esse pensamento coletivo fez isso por si só? Não, esse tipo de coisa não acontece como mágica. O que pode, sim, acontecer é uma corrente de pensamento deixar o ambiente mais pesado ou mais leve e isso atrair um determinado tipo de espírito, mas não seria algo colossalmente grande como existe na Quaresma Umbandista.
A Espiritualidade Amiga sempre utilizará todos os meios necessários, respeitando o Livre Arbítrio existente, para ajudar a todos em nossa evolução. A partir do momento que essa Holopensene da Quaresma foi criada no Astral, nossos amigos no Plano Espiritual conseguiram utilizar isso para ajudar nós, umbandistas, em nossa Evolução Espiritual (ou a famosa Reforma Íntima), para isso, sob a supervisão dos Guias de Luz que atuam para nos proteger dentro de nossos passos corretos (já ouviram falar dos Exus? Então, olha eles aí novamente), autorizam que espíritos obsessores atuem perante nós para que não apenas nos atentem, mas principalmente tenham condições de serem resgatados. É isso mesmo, irmãos. Durante a Quaresma é a época em que existe a maior quantidade de resgates de obsessores para a Luz Divina. Mas como isso acontece? Simples.... com muita oração. Então, remetendo ao conceito inicial do que é a Quaresma, podemos dizer que o conceito é igual (prece e vigília) mas com um objetivo distinto (resgate de espíritos obsessores).
Quando oramos e vigiamos, conseguimos não apenas ajudar os nossos irmãos que precisam de luz para seguir sua caminhada, mas nós também nos ajudamos com a nossa evolução. A Quaresma, portanto, irmãos, é uma grande oportunidade de evoluirmos espiritualmente, através de um contato mais forte com Deus e praticando aquilo que o Caboclo das Sete Encruzilhadas orientou lá atrás, em 1908: CARIDADE.
Eu particularmente não pratico qualquer tipo de jejum, mas entendo quem utilize essa prática para se confortar espiritualmente na Quaresma. O que eu preciso aconselhar é que o jejum em si não representa rigorosamente NADA se não for acompanhado de vigília de seus atos e oração. E se fizer jejum, que seja algo íntimo, sem existir uma publicidade sobre isso (seu irmão de terreiro não precisa saber que você faz jejum).
Quero finalizar dizendo que, segundo o que acredito, existem os Tronos da Umbanda. Quando falamos de Evolução, quem rege é Obaluaê, então fiquem sempre em sintonia com a evolução deste Orixá, especialmente durante a Quaresma.
Bom, como somos umbandista e gostamos de rituais, simbora passar algumas instruções:
TAPAR O UMBIGO
Você já deve ter escutado isso de algumas pessoas e até mesmo de Guias. O fundamento de tapar o umbigo é bastante simples: o Chacra do Plexo Solar é o responsável pela captação de energia, e ele fica localizado exatamente na região do umbigo. Quando cobrimos o umbigo, em tese tapamos a entrada de energia negativa.
É claro que apenas se taparmos o umbigo não quer dizer nada (uma camiseta tapa o umbigo da mesma forma que um esparadrapo). O que deve ser feito é consagrar algum tipo de elemento da natureza que tenha a propriedade de captação de energia de baixa vibração. O elemento mais comum encontrado é no metal, então por isso podemos dizer que colocar uma moeda CONSAGRADA no umbigo pode ajudar bastante.
Para consagrar, basta colocar a moeda (ou o elemento de metal) em um local bastante limpo e firmar uma vela a Ogum (que é o Orixá Guerreiro, protetor, o qual vibra no metal). Depois disso, coloque a moeda consagrada no umbigo, com a ajuda de um esparadrapo.
PEDRA DE PROTEÇÃO
Existem várias pedras que possuem a propriedade de absorção de energias de baixa vibração. A mais conhecida pela sua efetividade é a Turmalina Negra. Apesar de ser extremamente forte em captar essas energias, a turmalina demora muito para descarregar essas energias, então não é aconselhado utilizá-la encostada ao corpo (colares por exemplo). A forma mais comum é utilizar dentro das bolsa ou no bolso da calça.
Recomenda-se toda semana "descarregar" a pedra, deixando no chão durante uma madrugada inteira, firmando uma vela a Obaluaê durante o processo. Se você não tem a disponibilidade de colocar a turmalina na terra, pode deixar imerso em água com sal grosso que também funciona.
CONTRA EGUM
Pronto, chegamos ao assunto polêmico. Sergio, você é doido? Ficar falando de prática do Candomblé em um texto de Umbanda? Ora irmãos, e não estamos falando de Quaresma, que é do Catolicismo? Então, vamos falar de contra egum SIM!
Brincadeiras a parte, eu não recomendo utilizar um contra egum se você não tem rigorosamente todo conhecimento do fundamento que envolve esta prática. O contra egum vem do Candomblé e logicamente não tem relação NENHUMA com o Candomblé.
O contra egum é uma trança de palha da costa e é utilizado amarrado (sem nós) no braço da pessoa. A palha da costa é consagrada a Obaluaê, e quando consagrada da forma correta e após os banhos para Obaluaê tem a capacidade de afastar os espíritos obsessores.
O seu uso para os umbandistas é recomendado apenas para os médiuns que trabalham em locais onde exista notadamente a concentração grande de desencarnados obsessores, como hospitais, bares, presídios, etc.
Lembrando novamente: FAÇA APENAS SE VOCÊ CONHECER E RESPEITAR TODOS OS FUNDAMENTOS DESTE RITUAL.