segunda-feira, 11 de março de 2019

Atendimento por Conhecidos

Querem tema polêmico? Então, toooomaaaa polêmica.

Em quase todo terreiro que tive o prazer de conhecer ou trabalhar existe uma regra que é mais ou menos a seguinte: parente não atende parente e parente não cambona parente. Acredito que isso deve ser uma orientação nos terreiros da maioria dos leitores, mas vamso tentar entender o porque isso acontece.

Primeiramente precisamos entender que NÃO EXISTE mais médium inconsciente. Os raríssimos médiuns 100% inconscientes que existem são aqueles que iniciaram seu trabalho na Umbanda há mais de 60 anos. Os médiuns mais novos são semiconscientes. Isso não quer dizer que o médium sabe de tudo que está acontecendo durante o atendimento e que consiga lembrar de tudo. Nesse tipo de mediunidade (que é a mais comum), a pessoa consegue receber os recados que o Guia precisa que ele escute, mas não faz com que o médium tenha acesso às informações do atendimento em si. Sabe os trejeitos dos Guias quando incorporam? Então, eles ficam mais brandos no médium semiconsciente (se vocês acham que falar grosso é a principal característica de um Exu incorporado no médium inconsciente, então revejam seus conceitos). 

A palavra "semiconsciente" na Umbanda denota, também, que as informações ficarão no subconsciente do médium, o que permite a contrapartida, ou seja, informações do subconsciente do médium "interferirem" no atendimento ao assistido. Logicamente não há problema no atendimento de pessoas que o médium conheça e não tenha uma ligação mais íntima, até porque é comum em alguns terreiros os assistidos acabarem conhecendo e conversando com os médiuns. Aliás, como o trabalho é sempre em conjunto entre médium e Guia, nada mais justo do que o Guia utilizar algum tipo de conhecimento do médium para ajudar a solucionar alguma situação do assistido. Isso é o que faz nossa Umbanda ainda mais linda: união entre todos, inclusive médium e Guia.

No entanto, quando existe o atendimento a uma pessoa íntima do médium, não apenas o conhecimento de alguma situação é colocada à tona, mas pode existir o direcionamento do atendimento pelo médium. Mas como assim, Sergio? Quer dizer que o médium pode influenciar o Guia? A resposta pode assustar, mas ela é bem direta: SIM, PODE!!!! A Umbanda trabalha baseada no Livre Arbítrio, então o Guia não pode impedir que seu médium "passe na frente" durante um atendimento. O que ocorre depois é uma consequência imposta pela Espiritualidade junto ao médium, mas aí o estrago pode já ter sido feito. É sempre bom ressaltar que quando o médium "passa na frente" do Guia, não existe necessariamente uma mistificação, mas o animismo fica mais forte e o Guia, mesmo estando ali presente, fica com menos força na incorporação que o médium.

Vamos imaginar uma situação hipotética: um assistido vai no terreiro querer saber sobre abertura de caminhos em seu trabalho. Quem atende é o seu cônjuge. O Guia de Luz pretende falar para a apessoa ir pelo caminho A e fazer tal e tal coisa, mas o médium quer que seu cônjuge faça outra coisa e de uma forma diferente. De forma inconsciente ele vai mandar essa informação para o Guia, que vai passar a informação "errada" para o assistido. É nesse momento que a situação que está ruim tende a piorar. Se fosse para o assistido saber o que seu cônjuge quer falar, que pergunte direto pra ele. Simples assim!

Todos nós, sem NENHUMA exceção, somos dotados de um terrível problema: ego inflado. A cada dia temos que vigiar para não permitir que nosso ego infle ainda mais e nos dê rasteiras, e quando colocamos a mediunidade no meio, a queda via de regra é muito mais dolorida. Para evitar isso os terreiros adotam a prática de não deixar que parentes interajam com os Guias. Não é chatice, é preservação da harmonia.

Bom, vamos para a parte divertida que é identificar os tipos de situações que ocorrem quando temos Guias e conhecidos juntos:


O ÓBVIÃO

Trabalhei em um terreiro em 2013 que existia um determinado médium (muito bom, por acaso) que sempre que recebia seus guias, chamava sua filha para conversar. Ele falava tudo que estava acontecendo na vida da menina, mas coisas que o médium tinha conhecimento. Ou seja, perdíamos pelo menos 5 minutos toda gira esperando que ele falasse com a guria, aquilo que era óbvio, do tipo "hey moça, hoje de manha você tomou água né? Hhhhhmmmm, sei viu"... ou seja, o "obvião"!


BABÁ

Esse aí é o caso mais comum de todos e via de regra envolve marido e mulher ou pais e filhos. A médium recebe seu guia e começa a trabalhar. Seu marido, que foi incumbido de cambonar outra entidade ou até mesmo fazer qualquer outra coisa na gira, presta mais atenção em seu marido do que no trabalho que está acontecendo, o que gera um desequilíbrio gritante na gira. 

Se a médium fizer alguma coisa fora do normal, então, aí só Oxalá na causa. A pessoa só falta ter um ataque cardíaco e sair correndo rsrsrs é ou não e verdade, irmãos?


CHICO XAVIER

Calma, não vou falar do nosso amado e saudoso Chico Xavier (o qual devemos muito respeito e admiração), mas sobre a impressão que algumas pessoas têm sobre seus parentes médiuns. Eu já trabalhei em um terreiro e existia um médium que era novo na religião, mas tinha um histórico muito grande de médiuns em sua família, então ele sabiamente entrou na religião para desenvolver, e acabou fazendo isso de uma forma bastante rápida e precisa (é um médium realente muito bom). O único "detalhe" era sua noiva, que o tratava como se fosse o novo Chico Xavier, dizendo que ele tinha essa e aquela capacidade, e que as outras pessoas que trabalhavam no terreiro não tinham a capacidade ajudá-lo. 

E, logicamente, ele era um médium comum como todos os demais, sem nada que o diferenciasse na parte espiritual e mediúnica. Demorou, mas a sua noiva aprendeu que aquele posicionamento dela era prejudicial, pois causava um constrangimento entre todos os trabalhadores (porque ninguém o considerava o "novo Chico") e atrapalhava o desenvolvimento do médium, que acabava acreditando que ele era algo além daquilo que realmente deveria ser.



Bom, esses são alguns exemplos mais comuns. Você conhece outros? Tem alguma experiência para compartilhar? Então comente aqui ou me mande um WhatsApp (11 99913-5474) para conversarmos melhor.

Que Oxalá abençoe a todos.

Axé

Nenhum comentário:

Postar um comentário