quarta-feira, 6 de março de 2019

Fechamento de Corpo

Antes de começar com esse texto, quero convidar aos leitores de São José dos Campos, Jacareí e região a participarem do Curso Ensinamentos de Umbanda, que será realizado em jacareí todas as quartas a partir do dia 20/03. Me chamem no WhatsApp (11 99913-5474) para maiores informações. 

Olá meus irmãos em Oxalá. Espero que todos tenham passado um ótimo Carnaval, com bastante alegria, diversão e respeito ao ori que carregam. Bom, já que o último texto foi sobre a Quaresma na Umbanda, achei legal trazer pra pauta um texto sobre outro ritual que é comumente realizado nos primeiros dias da Quaresma, que é o tão conhecido "Fechamento de Corpo".

Eu particularmente acho esse ritual um dos mais lindos que existe, pois apesar de não ser originário na Umbanda, ele remete à várias religiões que, de forma ecumênica, trouxeram para o Brasil esta prática. Lá no Século XV os portugueses saqueavam a África, com o intuito de comercializar os escravos (eu tenho nojo toda vez que sou obrigado a escrever isso, mas é a mais pura realidade). No alto da arrogância católica, eles tentavam converter os escravos, mas isso não acontecia da forma esperada. Nas viagens para o Brasil, alguns escravos ao invés de rezarem para os santos católicos, realizavam rituais religiosos voltados basicamente na cultura iorubá, onde eram benzidos e protegidos. No início esses rituais eram castigados pelos europeus, mas quando eles colocavam os pés em terras tupiniquim, sofriam de várias doenças por não estarem (eles, os homens brancos) acostumados. Como seus remédios eram escassos, acabavam recorrendo aos escravos e seus rituais.

Esta foi a semente do ritual de fechamento de corpo como conhecemos atualmente, mas houve uma série de mudanças. O ritual dos escravos eram bastante invasivo e entre as práticas, existia um corte que era feito na pessoa e naquela incisão era colocada as ervas consagradas para o Orixá que regia aquele indivíduo. Na Umbanda eu nunca ouvi falar de rituais que precisem cortar alguém, sendo geralmente feito manipulação de ervas, muito oração e confecção de patuás. 

Antes mesmo da Umbanda se popularizar, o Sertanejo já realizava uma forma adaptada de fechamento de corpo, sendo que um dos maiores defensores desta prática era Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião, líder do Cangaço, que praticamente obrigava seus companheiros de batalha a rezar de forma fervorosa todas as manhãs, pedindo proteção (inclusive para São Jorge, que na Umbanda é sincretizado com Ogum e é nosso protetor). Era muito comum os sertanejos andarem com pequenos patuás de proteção o tempo todo. 

O Catimbó também é uma religião que utiliza o ritual de Fechamento de Corpo, sendo que nossos irmãos juremeiros realizavam inúmeras rezas específicas, além de "cruzar" a pessoa com pinga curtida com a casca da Jurema e muita defumação. 

A Umbanda, sendo uma religião moderna como sempre foi, acabou "emprestando" um pouco de cada ritual e estabeleceu o seu próprio. Vale sempre a pena ressaltar que não existe uma forma única de se fazer algo dentro da Umbanda. O que existe é algo com ou algo sem fundamento. Se tem fundamento, pode e deve ser feito; se não tem, deve ser repensado. Eu vou citar alguns dos rituais que conheço para fechamento de corpo, mas lembrando que de forma alguma deve ser feito por pessoa inexperiente, ou substituir a forma como o terreiro que você trabalha ou frequenta atua. Confie no seu Pai ou na sua Mãe de Santo. Eles sabem como agir da forma correta com seus filhos.

Vamos aos rituais:

RITUAL 1

Ingredientes: 

Um pote com azeite e dentes de alho;
1 vela palito cruzada preta e branca ou somente branca.

O azeite junto com os dentes de alho são benzidos pelos Pretos Velhos e ficam energizados pela vela firmada e consagrada a Obaluaiê.

Cada um dos médiuns tem o sinal da cruz feito na testa, no peito, nas mãos e nos pés (sempre com o óleo ungido). Este cruzamento pode ser feito pelo Sacerdote da casa ou, em alguns terreiros, ele é feito entre os filhos (são divididos em duplas e um cruza o outro), o que representa a união, harmonização e a capacidade de benzimento de todo médium umbandista.

No final do ritual, dá-se passagem aos Exus dos dirigentes do Terreiro (ou de médiuns de consulta), os quais realizam o fechamento do trabalho, imantando sua energia de proteção junto aos médiuns.

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RITUAL 2

Ingredientes: 

Um pote com azeite e dentes de alho;
1 vela palito cruzada preta e branca ou somente branca.
Pano preto (o quanto necessário);
Olho de Cabra (1 para cada médium);

O ritual de benzimento com o azeite e o óleo é o mesmo, porém junto ao azeite sendo energizado, também é colocado os olhos de cabra e o tecido. O tecido é costurado em volta do olho de cabra, e naquele momento é consagrado como patuá, e deverá ser usado pelo médium o tempo todo durante a Quaresma.

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RITUAL 3 (de Tata Caveira)

Este é um ritual que aprendi com o amigo e mestre Tata Caveira, e conforme ele mesmo diz, "não é um daqueles rituais que devem ser escondidos". 

Ingredientes:

1 vela palito preta;
1 vela palito branca;
1 vela palito vermelha;
1 fio de contas pequenas preto e pequeno (que caiba no bolso);
Barro ou argila;
Folha de mamona (bastante);
Defumação com as ervas de Omulu + casca de alho.


O Exu (incorporado ou irradiando sua energia no médium) deve consagrar as folhas de mamona. Sob essas folhas é colocado o barro (ou a argila). Em cima do barro os fios de conta (1 para cada médium) são colocados. As velas são dispostas em torno das folhas, sendo a preta do lado direito, a vermelha no direito e a branca no centro (parte de cima). Elas deverão ser firmadas e consagradas para Exu Tata Caveira e ficarão imantando tudo por pelo menos 30 minutos. 

Cada uma das guias deverá ser retirada daquela firmeza pelo Guia incorporado e entregue individualmente para cada médium, que também receberá as bênçãos no passe de Seu Tata Caveira.

Todo o ritual deve ser realizado com a defumação queimando na porteira do terreiro.

O médium deverá usar o fio de contas cruzado o tempo todo, preferencialmente em local não visível (por isso pode ser pequeno).

O barro e as folhas de mamona deverão ser descarregadas no cemitério.

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RITUAL 4 (dos Baianos)

Ingredientes:

1 vela palito branca para cada médium;
1 vela palito vermelha ou azul escuro;
1 vela palito branca;
1 pedaço de tecido vermelho ou azul escuro para cada médium;
1 medalha pequena de metal (o Guia Espiritual vai intuir de qual santo ou Orixá será usado);
Linha de costura;
Pemba ralada;

A pemba será ralada enquanto se canta ponto de Iansã, visando consagração.

O tecido vermelho ou azul (dependendo de qual cor seu terreiro cultua Ogum) ficará disposto, já cortado em tamanho pequeno, em alguma vasilha e será firmada uma vela vermelha ou azul (idem ao caso do tecido).

As medalhas ficarão em outra vasilha, imerso em água mineral, sendo consagrada aos Baianos com a vela branca;

As medalhas deverão ser costuradas no pedaço de pano. Cada médium confeccionará este amuleto para si.

Cada médium será cruzado com a pemba por um Baiano incorporado, que também consagrará o amuleto. No final cada médium receberá a vela palito (também consagrada na hora pelo Guia), a qual deverá ser firmada na frente do congá, em intenção a Ogum.


Esses são os rituais que mais conheço dentro da nossa amada religião. Você conhece algum outro e deseja compartilhar? Me mande uma mensagem.

Axé





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