Ok, eu sei que muitas pessoas que vivem entre nós são praticamente santos e outros que já desencarnaram (como Chico Xavier) realmente eram algo parecido com isso, mas achei prudente colocar um título mais impactante para chamar atenção para um assunto que tenho ouvido bastante esses dias, sobre os espiritualistas (kardecistas, Umbandistas, etc) estarem acima de qualquer suspeita.
Infelizmente estamos acompanhando pelos noticiários que o famoso médium João de Deus está sendo acusado por pelo menos 78 mulheres (dizem que pode chegar a 200 casos) de terem sido violentadas sexualmente por ele durante seus atendimentos mediúnicos. Os absurdos se acumulam neste caso, de todos os lados. Eu li em algum lugar (sinceramente não me recordo a fonte) uma pessoa dizendo que essas mulheres estão todas macumunadas, mentindo para arrancar dinheiro do médium. Outra declaração a respeito de João de Deus veio de Renan Calheiros (sim, o Senador da República), que disse que "João de Deus é um patrimônio da Espiritualidade".
Ao nobre senador, basta dizer que não existe algo como um patrimônio da Espiritualidade. A Espiritualidade é composta de pessoas, encarnadas ou não, que agem se visar o lucro ou a fama, apenas pregando o bem a quem quer que seja.
À pessoa que alega que as mulheres estão agindo em conluio, não quero julgar ninguém de forma antecipada (e nem em qualquer momento, afinal de contas não nos cabe isso), mas essas 78 mulheres estão se tornando 200 (em investigação pelo Ministério Público). Poxa vida, será que todas essas mulheres conseguiram se reunir e, nenhuma delas caindo em contradição até agora, fizeram um dos maiores esquemas recentes? Sinceramente não acredito nisso.
No meio deste amontoado de acusações e defesas insólitas, vejo que pessoas relativamente influentes falando que isso tudo aconteceu porque ele nunca foi kardecista ou "espírita de verdade". A própria Federação Espírita Brasileira ao falar sobre o assunto, se limitou a dizer que não tem culpa de nada, querendo se distanciar do problema. Claro que a FEB deve, sim, explicar como funcionam os seus tratamentos de cura espiritual (em contraponto ao que João de Deus fazia), mas o peso de seu nome deveria servir como um doa balizadores para uma discussão ampla sobre esse assunto. A FEB não poderia sob hipótese alguma, ver tudo como mera espectadora. O peso de sua história deveria ser utilizada nesse tipo de momento como protagonista de uma mudança no pensamento das pessoas.
E a mudança que me refiro é exatamente fazer com que a população entenda que não existe ninguém que não possa ser corrompido pelos excessos da carne. De Chico Xavier a Divaldo Franco passando por Rubens Saraceni e até mesmo nosso amado Zélio Fernandino, todos passaram pelas tentações e quem pode garantir que em determinado momento não cederam a elas? Logicamente não como João de Deus deva ter agido, mas a santidade dessas pessoas só existe porque nós acreditamos mais no instrumento do que em quem o opera. Ou seja, nos impostamos mais com o médium do que com o Guia de Luz. E quando isso acontece, existe uma grade possibilidade de ficarmos míopes à realidade e muitas vezes, muitas vezes MESMO, aquele médium acaba se deixando corromper pelo ego.
Eu trabalhei durante alguns anos em Itupeva, interior de São Paulo, e no início de 2016 um famoso pai de santo da cidade foi preso acusado de estuprar uma menina de 14 anos, a qual ficou grávida. O sacerdote dizia que recebia dois guias (Zé Boiadeiro e João Caveira) e eles mantinham relações sexuais com a menor para ajudá-la a curar de algum mal que sofria. Esse exemplo pontual mostra que nós umbandistas não somos santos, independente do cargo que exerça num terreiro, e a contrapartida tem que ser verdadeira: também não somos todos espelhos desses casos que desgraçam nossa sociedade.
Quando eu digo que não devemos julgar as pessoas, me sinto um pouco hipócrita, porque é exatamente isso que todos fazemos o tempo todo. Nós temos a clara noção do que é certo e do que é errado, então quando alguém faz algo que vai contra esses princípios, a primeira coisa que fazemos é criticar. Podemos até não verbalizar aquilo, mas que julgamos em nosso pensamento, isso é fato. Ponderado isso, digo que devemos nos vigiar a todo dia para que não apenas não julguemos as pessoas, mas também para que possamos ajudá-las, tentando entender tudo aquilo que elas passaram para chegar naquela determinada situação claramente errada. Minha namorada é terapeuta hipnóloga e comenta comigo que estatisticamente falando a quantidade de pessoas que a procuram com problemas graves de ordem moral (traição, excesso de violência, compulsões, etc) apresentaram algum tipo de abuso na infância. Isso me fez pensar que todos somos reflexo de tudo aquilo que passamos na vida, desde nossa concepção. Sendo assim, precisamos ajudar ao próximo escutando seus problemas e dando o carinho que as vezes faltou na infância e, décadas depois, fez com que aquela ferida escondida se transformasse em um "desvio" na personalidade da pessoa e como consequência agora a sociedade enfrenta esses problemas que vemos aos montes.
Não existe pessoa santa, mas podemos ser cada vez mais pessoas melhores, vigiando nossos passos e pensamentos e também nos colocando à disposição de todos para serem ouvidos. João de Deus pode ser uma triste sequela da falta de carinho, da falta de amor e do excesso de ego.
Finalizo dizendo que se for culpado, deve cumprir a pena que lhe cabe com todo o rigor da lei, sem que pese o fato dele ser mais ou menos famoso ou influente. Se errou, que pague pelo erro.
Axé!
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