quinta-feira, 8 de agosto de 2019

"Aquele médium não tem Guia" - xiiii

Bom dia povo do Axé. 

A postagem de hoje é sobre uma situação que acontece em vários terreiros e, por mais que possa parecer algo simples de lidar, o resultado muitas vezes acaba sendo muito pior do que imaginamos. 

Estamos falando daquele médium que tem a curiosa mania de apontar para os seus irmãos de fé e dizer "fulano não tem guia" ou "eu tenho visão e ali não tem guia nenhum". Sim, estamos falando do médium tagarela sem ética e inseguro. Aquele médium que se acha a última bolacha do pacote, mas nada mais é do que um bebê engatinhando pra trás com a Espiritualidade.

A primeira coisa que temos que analisar é o simples fato de que NÃO EXISTE como provar que alguém está ou não incorporado. Se alguém diz que "tem visão" para enxergar os espíritos, qual a prova que temos que ele está falando a verdade ou mentindo tanto quanto a pessoa que ele acusa de estar mistificando? Nenhuma, simplesmente porque tudo relacionado a fé, não se prova. Ou se tem fé ou não se tem fé. E quando alguém alega categoricamente que fulano "não tem guia", esse tagarela está entrando e também causando o que chamamos de desequilíbrio da Fé, que mexe com nada mais nada menos do que as forças de Oxalá, o regente da Umbanda. Então, amigo e/ou amiga tagarela, reveja seu posicionamento pois quando você aponta o dedo para alguém que está em processo de incorporação, você está apontando o dedo para o nariz de Oxalá.

Eu tenho um teste bastante simples que identifica se um médium tem mesmo essa tal visão mediúnica e também se trabalha 100% inconsciente, e posso garantir que não existe médium com essa mega visão hoje perto de mim. Leiam bem, NÃO EXISTE ISSO!!!!!! Já fiz o teste e confirmou o que eu já suspeitava, então posso garantir que o médium que garante que vê tudo e todos lá do "outro lado" ou fala muita groselha, ou é inseguro. 

Mas como assim, Sergio? Inseguro porque? Resposta simples... todo médium é uma pessoa (dãr, jura?) e existem pessoas que são seguras de si e pessoas que são inseguras. As pessoas que julgam as outras como esporte são, via de regra, extremamente inseguras, e usam esse artifício para se destacarem. A pessoa não consegue méritos para si devido suas atitudes, então decide diminuir os outros para que desta forma fique "acima". Ou seja, é uma pessoa boba, infantil.

Reparem que as pessoas que se colocam nessa posição de "novos Chico Xavier" são geralmente médiuns novos na religião (ou seja, não possuem a experiência necessária para seu crescimento) ou médiuns "pajeados"por alguém (marido e mulher, namorados, pais e filhos, etc) e bastante mimado. 

A dica que quero deixar é simples: se você está em uma Casa Santa para praticar a Caridade, então comece com quem está ao seu lado. Não julgue seu irmão, não o acuse de coisas que você NUNCA conseguirá provar. Se preocupe em ser uma pessoa melhor, pois somente assim você será um médium melhor, e todo médium bom sabe que quem julga é Deus e os Orixás, não nós, seres falhos feitos de carne e pouca fé.

Axé irmãos.





















Abertura de Novos Terreiros

Olá pessoas do Axé. Depois de um tempo parado (MUITAS coisas sendo resolvidas), decidi voltar a postar alguns textos neste blog. O tema hoje é algo que vejo acontecer de forma bastante recorrente, que é a abertura de um terreiro de Umbanda. 

Estamos passando por um momento onde terreiros são abertos como se abre uma pastelaria, onde se não der certo é fechado e parte para um novo empreendimento. O problema é que a carga de responsabilidade em se abrir uma Casa Santa é MUITO maior do que se pensa, e não dá pra simplesmente abrir e fechar se der errado.

Eu já pensei em abrir um terreiro? Claro... muitas vezes, aliás, mas aí eu lembro de todas as responsabilidade que eu teria que ter querendo ou não, e acabo desistindo, afinal de contas temos que ser honestos com nossas vontades e limitações. Eu até falo a respeito de eventualmente ter um chão pra receber os Guias e praticar minha forma de Caridade, mas fica mais naquele papo de bar do que em ações práticas. 

O que me deixa assustado é quando essas ideias mirabolantes acabam se tornando verdade. Atualmente eu trabalho na Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar em Jacareí. Essa cidade é pequena (tem algo em torno de 180 mil habitantes) e mesmo assim existem cerca de 200 terreiros de Umbanda. Quando analisamos o perfil desses terreiros, vemos que menos de 1/3 deles são antigos e/ou dirigidos por médiuns experientes, com a devida caminhada na religião que chancela seu sacerdócio. A maioria avassaladora dos terreiros são novos e dirigidos por pessoas de muita boa vontade, sim, mas sem nenhuma experiência que justifique abrir uma Casa Santa.

Se antigamente os terreiros trabalhavam de uma forma bastante similar, o que vemos hoje é uma imensidão de casas agindo de forma diferente, o que denota que via de regra o que leva uma pessoa a abrir seu terreiro não é a vontade de praticar a Caridade, mas uma discordância com o antigo Pai ou Mãe de Santo. Analisem se não é verdade isso... a pessoa trabalha em um terreiro em que a Mãe de Santo fala determinada coisa. O médium não concorda com essa coisa e ao invés de tentar entender o que porque daquilo ou argumentar de uma forma a chegar em um denominador comum, decide se afastar e abrir seu próprio terreiro.

Só que o médium TÃÃÃOOO inteligente não consegue entender que a sua Mãe de Santo ou Pai de Santo passou por muita coisa pra chegar naquela conclusão, e não pegou aquilo em livros ou no Pai Google de Aruanda. Aí o médium fulo da vida abre seu Terreiro baseado em que? Na Caridade? Não... baseado na FALTA DE HUMILDADE em ter se negado a escutar os mais experientes. Ou seja, abre tudo menos uma Casa Santa, e aí começa seu declínio, porque todos sabemos que o que derruba o médium é a vaidade.

Só que não para por aí. O que é ruim pode ficar sempre pior. Esse novo pai de santo (com letra minúscula mesmo) antes de abrir seu terreiro (também com letra minúscula) começa a denegrir a imagem do seu antigo Pai ou Mãe de Santo para os seus filhos, pincelando situações pontuais e fazendo tudo que NÃO se espera de um umbandista, que é ser o COVARDE que age pelas costas. Isso faz com que o novo pai de santo (ainda com letra minúscula) se cerque de bons médiuns ou de pessoas influenciáveis e problemáticas? Reparem que que aceita essa situação ou é novo na religião (ou seja, acredita até na magia do Saci Pererê) ou está passando por algum problema relativamente grave. 

Como a Espiritualidade vê essa situação? Com bons olhos? Claro que não. A Espiritualidade Amiga, aquela de alta vibração que acompanha toda Casa Santa, não vai simplesmente aceitar algo construído na intriga, na mentira, na falta de humildade. Os Guias de Luz não aceitam isso, então adivinhem quem vai trabalhar nesse terreiro (ainda em minúsculo heim) novo? Vocês podem imaginar... começa com K e termina com "umba".

Mas Sergio, então quer dizer que não podemos abrir um terreiro novo? É errado? Claro que não... aliás, muito pelo contrário. Todo Terreiro (agora, sim, com letra maiúscula) é mais um local de atendimento caridoso. Mas pra fazer isso a pessoa tem que ter experiência (10 anos ali na lida diária com a Espiritualidade é uma referência de tempo); tem que estar assessorada por outros umbandistas (kardecista entende de Espiritismo e candomblecista de Candomblé); tem que fazer todo o ritual para o sacerdócio (vou explicar em outro texto do que se trata) e, acima de tudo, tem que ser humilde para conversar com seu Pai ou Mãe de Santo e receber a benção para iniciar sua nova jornada.

Lembrem que se você agiu pelas costas antes de abrir seu terreiro, não poderá reclamar quando acontecer a mesma coisa contigo. E acredita vai acontecer e você ser merecedor da queda que certamente virá.

Texto pesado né? Prometo que o próximo será mais leve.

Axé irmãos.

terça-feira, 30 de abril de 2019

Caridade de Verdade

Com a frase "Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da Caridade", o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou a Umbanda em 1908. Sempre que converso com outros umbandistas, percebo que existe um consenso entre todos de que praticar a caridade é fundamental para ser um praticante de nossa amada religião.

O que eu sempre me questiono (e que meu Pai Oxossi nunca tire isso de mim) é como definir o que é caridade e, principalmente, como se praticar esta tal caridade que tanto falamos. Será que entregar presente numa comunidade carente no Dia das Crianças, por exemplo, basta? Sou caridoso quando levo prato de sopa para os moradores de rua, e isso me basta? O que me define como alguém caridoso?

O primeiro conceito de caridade é um ato pelo qual beneficiamos o próximo, sem esperar nada em troca, para nos conduzirmos a Deus. Caridade, portanto, é uma virtude teologal em seu nascedouro. Logicamente eu concordo em partes com este conceito, porque não creio que praticar a caridade seja necessariamente algo que tenha um objetivo religioso, senão colocaríamos contra a parede e renegaríamos as práticas caridosas de ateus, o que em estudos passados vimos que em muitas vezes se entregam em ajudas ao próximo.

Entendo, portanto, que a caridade não seja algo religioso, mas que tem referência direta a promoção da elevação moral do individuo, ou seja, sua reforma íntima, que nada mais é do que um posicionamento que devemos ter de nos tornarmos pessoas melhores baseado em nossas atitudes diárias, de forma constante. Acho interessante frisar o "de forma constante", porque entraremos no cerne do que imagino que deva nortear o que define alguém caridoso. 

É claro que existem momentos que conseguimos mobilizar mais a sociedade para realizarmos ações de maior escala, como entrega de ovo de Páscoa, presentes no Natal e Dia das Crianças, e coisas do gênero (essas ações devem continuar sempre), mas do que adianta escolhermos a dedo quem ajudar e quando ajudar? Será que alguém que maldiz o próximo ou que se nega a estender a mão no dia-a-dia tem condição de se dizer alguém caridoso porque duas ou três vezes ao ano vai para uma Comunidade entregar presentes e afins? Será que esses dias pontuais são mais importantes que suas atitudes diárias?

Vejamos um exemplo prático: eu tenho a possibilidade de vivenciar experiências diárias com diversas pessoas, tanto a nível profissional, quanto pessoal e religioso. Dificilmente alguma dessas pessoas fala "eu não sou caridoso"; muito pelo contrário. Existe uma constante necessidade de bater no peito e dizer "eu faço caridade" ou "temos que ter gratidão" (que é um termo que invariavelmente se refere à caridade). Há não muito tempo aconteceu algo comigo que reflete de forma clara esta situação. Uma pessoa que eu respeito muito (muito mesmo, ao ponto de não citar seu nome nesse texto) e é umbandista, passou uma semana inteira falando sobre praticar a caridade, dizendo que todos temos a obrigação de nos doarmos em ações sociais por sermos umbandistas. O discurso era muito bonito e impactante e deveria ser, sim, seguido por todos, mas infelizmente ficava nisso mesmo: um discurso. No dia seguinte ao discurso mais inflamado de todos, eu precisei da ajuda dessa pessoa. Pedi textualmente que ela me ajudasse e tinha a certeza absoluta que seria atendido. Eu não precisava de dinheiro ou de algo parecido; eu precisava de conselho, precisava de colo. Algo simples e que pode ajudar muito outra pessoa, mas que me foi negado justamente por quem brada contra quem não ajuda ao próximo. Vejam a incoerência do discurso de quem se diz caridoso em contraponto às suas atitudes práticas.

O caso acima é um entre tantos outros exemplos que vivencio diariamente e de inúmeros outros casos de pessoas que compartilham suas experiências comigo. Existe um abismo colossal entre aquilo que se prega com aquilo que se faz. O umbandista que nega colo a outra pessoa, seja ela quem for, não é caridoso quando se embrenha numa favela pra tirar foto com os mais necessitados. Isso não é caridade, isso é hipocrisia.

Esta hipocrisia, no entanto, não é exclusividade de um ou de outro. Infelizmente a regra prática que norteia nossa sociedade é a falsidade. Sei que isso é algo pesado para se dizer, mas façamos uma reflexão. Quantas vezes não dizemos que é errado falar mal de outra pessoa, mas no momento seguinte estamos fazendo exatamente isso? Aliás, quantas vezes não falamos "olha só como tal pessoa é, fica falando de fulano pelas costas e não tem coragem de falar na frente", mas fazemos isso justamente falando mal de quem fala mal. Vejam a incoerência; a falsidade. As famosas indiretas nas redes sociais (e eu mesmo faço isso direto) são as provas que não apenas vivemos em um mundo de falsidade, mas esse mundo só é falso porque NÓS SOMOS FALSOS. A pessoa verdadeiramente caridosa perdoa, não apenas no discurso, mas nas atitudes. A pessoa caridosa não guarda mágoas para o resto da vida. A pessoa caridosa não acredita que sua versão dos fatos é a verdade absoluta. A pessoa caridosa ama ao próximo, seja ele quem for e o que tenha feito. Aliás, ISSO é o que define a verdadeira Caridade dentro da Umbanda: fazer o bem ao próximo, SEJA ELE QUEM FOR, e sem esperar nada em troca.

É claro que nem sempre conseguiremos ser caridosos, afinal de contas estamos buscando nossa evolução, e os erros fazem parte do processo, mas sabendo disso, que precisamos evoluir sempre, temos a OBRIGAÇÃO te sermos melhores a cada dia. O umbandista não tem o direito de negar ajuda a quem quer que seja. O umbandista não pode se vangloriar de quando ajuda esta ou aquela pessoa. O umbandista não deve jugar o próximo, pois quando o faz está no mesmo nível que ele acha que o outro está (e eu quero deixar bastante caro que esse é um dos meus maiores defeitos). O umbandista não deve mostrar que faz algo para o próximo... o umbandista deve FAZER algo pelo próximo.

Se você leu este artigo e se sentiu atingido de alguma forma, então existe uma faísca de reflexão que deve ser assoprada todos os dias para que esta indignação se torne algo concreto em sua evolução. Não há vergonha em assumir seu erro, muito pelo contrário. A vergonha deve existir quando distorcemos o conceito base de nossa religião para nosso proveito, ou pelo nosso bel prazer. 

Sejamos caridosos de verdade. Escutemos nossos irmãos e filhos. Se todo mundo segurar nas mãos um do outro, então teremos algo para comemorar. Enquanto isso não acontece, a decepção prevalece.

Axé, irmãos.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Morte Causadas por Policiais - Visão Umbandista


Olá povo do Axé. Peço desculpas pela ausência, mas estava bastante enrolado com trabalho e também na elaboração do Curso Sabedoria de Umbanda, que estamos realizando todas as quartas em Jacareí. 

Ontem fui questionado por uma assistida (e também aluna do Curso) sobre o que acontece com alguém que, no exercício de sua função, acaba matando outra pessoa. Ela se baseou na triste notícia de que aqui perto, em Guararema, 11 assaltantes foram mortos após tentativa de roubo a 2 bancos. 

Primeiramente precisamos entender que quando se tratar de Lei Espiritual (ou a Lei do karma), devemos esquecer as leis dos homens. Se a lei dos homens fosse a correta, existiria uma única para todos os países. Como não é assim (aliás, é bem o contrário), então para nossa evolução espiritual e nossa caminhada em paralelo com o que a Espiritualidade espera de nós, vale mais a Moral do que qualquer coisa.

Tudo aquilo que fazemos, seja bom ou ruim, gera uma consequência, a qual encontraremos de uma forma ou outra, cedo ou tarde. Quem tem atitudes boas, colherá bons frutos. Quem anda errado, colherá maus frutos. Parece cartesiano demais, porém é exatamente desta forma que funciona. Existem profissões que de uma forma natural, pelo seu objetivo e forma de atuação, coloca a pessoa em situações de provação muito maior que outras. O advogado possui ferramentas jurídicas e meios de eventualmente ludibriar um juiz, utilizando subterfúgios variados para tal, visando a soltura de alguém que cometeu um crime grave, por exemplo. Ele possui esta possibilidade, mas se faz ou não faz uso dela é o que define sua caminhada moral e ética perante a Espiritualidade.

Os policiais, no entanto, fazem parte de um grupo de pessoas que sofre todo o tipo de tentação o tempo inteiro. Infelizmente no Brasil o policial não é valorizado como deveria, então seu salário é muito baixo para o risco que corre. Sendo "agentes da lei", possuem acesso mais fácil a todo o tipo de pessoa, e quando falham com seu caráter, acabam se corrompendo. Quem aqui nunca leu pelo menos uma matéria falando sobre policiais corruptos? Mas quero aproveitar e deixar bastante claro que são EXCEÇÕES... a avassaladora maioria dos policiais são de bem e não se corrompem de forma alguma. 

O que não pode ser evitado, no entanto, são os confrontos entre policiais e bandidos. Poderia, sim, ser evitado se nosso Estado se importasse mais com as condições da sociedade e não empurrassem as pessoas para o crime, mas como estamos muito longe disso, o fato é que o policial que está nas ruas pode a qualquer dia se ver diante de algum confronto que precise utilizar suas armas para se defender ou defender terceiros. E é aí que está o grande problema que precisamos ponderar.

Este caso de Guararema em específico se trata de uma emboscada que a PM realizou. Segundo o alto comando da corporação, a quadrilha estava sendo monitorada há mais de 4 meses, portanto existia uma certeza: o roubo aconteceria. Sendo assim, precisamos analisar quais as opções que os policiais tinham para cumprir sua obrigação. Não sou especialista em Segurança Pública ou algo do tipo, mas com 41 anos bem vividos, consigo dizer que quando há uma investigação para que um crime seja impedido e, além de não ser impedido (a quadrilha entou na agência bancária), ainda vemos a morte de 11 pessoas, algo aconteceu de errado. 

Certa vez, Pai Tonico (Preto Velho que tenho a honra de conhecer há algum tempo) disse que todo mundo que atenta contra a sua vida ou a de terceiros, seja por qual motivo for, vai se acertar com a Espiritualidade, porque ninguém tem o direito de interromper uma criação Divina, e a vida das pessoas é a Sua maior criação. Vale lembrar que aquele traficante que vende uma droga pesada, sabendo que poderá causar a morte de alguém, por inúmeras consequências do abuso das drogas, também incorre contra a vida de outras pessoas, portanto é sabido que pagará por seus atos.

Voltando ao caso de Guararema, percebemos que existiam pelo menos duas possibilidades para amenizar o ocorrido:

Investigar e prender
Cercar os bandidos e rendê-los, que seria a solução mais plausível, já que eram 25 policiais contra 11 assaltantes. 

Fazendo a coisa certa, o karma de cada um dos 25 policiais ficaria preservado (pelo menos por esta ação) e, presos, os bandidos poderiam rever suas ações até então. É claro que não sou ignorante nem inocente ao ponto de achar que todo bandido é curado na prisão, muitíssimo pelo contrário, mas a oportunidade seria dada. 

Em conversa há muito tempo com Exu que trabalha na linha de Capa Preta, me foi dito que quando alguém é assassinado, especialmente se era pessoa encarnada de moral duvidosa (que é o caso desses assaltantes), existe uma grande possibilidade dele se tornar um espírito obsessor com o foco único e exclusivo de atormentar aqueles responsáveis pelo seu desencarne, tentando fazer com que aquela pessoa se mate. E o pior é que muitas vezes eles conseguem: a segunda profissão com maior número de suicídios é justamente a de policial. Além do stress natural da profissão, imaginem a situação de um policial que é atormentado constantemente pelos espíritos de quem matou (seja por qual for o motivo). É uma situação gravíssima e gera um ciclo cármico muito pesado. Vejamos:

O policial tira a vida de outra, portanto impede a "Evolução" dela.
O espírito, desequilibrado e raivoso, não consegue encontrar sua luz enquanto não ver a morte do policial.
O policial entra em depressão profunda e tira sua própria vida.
Desencarnado como suicida, vai pagar pelo tempo que ainda teria que viver, sofrendo na alma todos os males de um suicida.

Devemos, portanto, sempre evitar atentar contra a vida de quem quer que seja, e por qual for o motivo. Não compensa pelo fardo que carregaremos aqui deste lado e do lado de lá também. Claro que, no caso de policiais, muitas vezes existirá a única opção da utilização de arma de fogo, mas isso deve ser o último recurso. 

Quero deixar no final uma frase dita pelo governador de estado de São paulo, João Dória, sobre este caso: "estão de parabéns os policiais que agiram e colocaram no cemitério mais dez bandidos". Quando um chefe de Estado comemora a morte de alguém (seja lá quem for), quer dizer que há algo de muito errado na sociedade, portanto devemos estar ainda mais firmes em nosso propósito da Paz e da Caridade. Não sejamos influenciados pelos que propagam o ódio.

Sejamos melhores.

Axé!

segunda-feira, 18 de março de 2019

Batismo na Cachoeira - TUOBM 17/03/2019

O batismo do umbandista é um dos rituais mais lindos que existe na religião. É simples, sem muita pompa, mas traz em cada gesto, em cada intenção, a beleza e a força de uma mudança de vida. O renascimento para a Umbanda é o renascimento da pessoa, pois a Umbanda em si é a mudança para melhor. 

Participar do ritual de batismo, portanto, é um verdadeiro privilégio e me faz amar cada vez mais e mais nossa amada religião. Ontem, (17/03/2019) foi um dia especial, pois novamente tive a oportunidade de ser o padrinho na religião de duas pessoas que amo desde o dia que os conheci: Thamires, uma pessoa forte, com a personalidade que os filhos de Oxossi têm de sobra, aliado à doçura de Iemanjá. Carrega consigo a coroa dos líderes, e me sinto honrado em saber que sou o padrinho de uma das médiuns mais seguras de si que já conheci. 

Paulo não é só Paulo. É Paulão e Pablito... uma das pessoas mais doces e caridosas que conheci em minha vida inteira. Seu senso de humor misturado com sua seriedade militar na condução dos assuntos polêmicos, o faz um Umbandista que traz em seus passos a retidão do Pai Ogum. Apadrinhar o Paulo é apadrinhar a Umbanda em sua forma mais pura.

Antes de compartilhar com vocês algumas das fotos e vídeos deste dia maravilhoso, gostaria de agradecer a minha Mãe de Santo, Jaimara Calegari, pela confiança e direcionamento, bem como a madrinha Virginia e a maezinha Pamela. Logicamente a todos os meus irmãos em Oxalá da Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar, em especial aos "renascidos" Yuri, Brenda, Rosângela, Marcela, Camila.











terça-feira, 12 de março de 2019

Incorporação Fora do Terreiro

Olá povo do Axé. Novamente um assunto que, apesar de polêmico, deve ser entendido por todos os médiuns, especialmente os mais novos, aqueles que estão há pouco tempo na religião e ainda aprendendo a entender sua mediunidade. Falaremos um pouco sobre incorporação fora do terreiro.

É relativamente comum chegar até o meu conhecimento o fato de algum médium ter sido visto recebendo um determinado guia em casa, numa balada, numa reunião na casa de algum amigo, etc. Sempre que alguém me traz essa informação, a primeira coisa que eu pergunto é quem era o médium. E eu não pergunto pra fofocar ou algo parecido, mas porque da mesma forma que existem mediunidades distintas, também existem médiuns distintos entre si. Não há como dizer que uma pessoa que começou ontem na religião esteja tão desenvolvido ou tão firme com sua mediunidade do que quem está há mais tempo trabalhando na Umbanda e conhecendo como sua mediunidade funciona. 

Quando começamos o desenvolvimento mediúnico, fazemos dentro de um terreiro não por conveniência, mas principalmente por segurança. O terreiro é um local Sagrado, consagrado e PROTEGIDO. Só passa pelas defesas de um terreiro aquilo que os Guardiões da casa permitem, então quando um médium iniciante passa a ser desenvolvido, vai incorporar apenas guias de luz e, caso incorpore algum sofredor, por exemplo, serão casos pontuais que tem relação com seu karma, não com seu desenvolvimento mediúnico em si. Aos poucos, recebendo os Guias que o acompanham, o médium consegue identificar a energia do Preto Velho, do Exu, do Caboclo, do Boiadeiro e assim por diante, então tem o discernimento para identificar se ali está manifestado um Guia de Luz ou um zombeteiro qualquer. E isso é algo que conseguimos com o tempo e muito, muito treinamento (por isso a importância do desenvolvimento mediúnico dos terreiros).

Quando saímos do terreiro, temos condições, sim, de nos proteger, mas é algo muito pessoal e tem mais relação ao nosso comportamento enquanto médium (lembramos que somos umbandistas o tempo todo, não apenas nas giras). Quando usamos nosso Livre Arbítrio para dar passagem a algum espírito, temos que ter a plena consciência que estaremos muito menos protegidos do que se estivéssemos no terreiro, então existe uma grande possibilidade de recebermos um kiumba que, inteligente como muitos deles são, se passam por nossos Guias e nos enganam. Quando isso acontece é extremamente perigoso por inúmeros motivos, mas o principal é que o médium dá passagem para que seja manifestado um kiumba (que nada mais é do que um espírito de baixa vibração que sabe o que está fazendo e age errado de propósito), e esse obsessor faz o que??? Conversa com as pessoas e, muitas vezes, dão até consulta.

Percebam o tamanho do problema que existe em um ato de irresponsabilidade. O médium, mesmo que com as melhores das intenções, dá passagem para um obsessor que atende alguém que está com algum problema, e pode dar conselhos que vão piorar ainda mais a situação da pessoa. Pode ocorrer uma série de problemas um atrás do outro e todo aquele trabalho de firmeza que o Pai ou Mãe de Santo fez para ajudar o médium, seja jogado no ralo por conta disso.

Agora vejamos mais uma "coincidência". Acredito que perto de 90% dos casos de médiuns que incorporam fora do terreiro, especialmente na rua ou em baladas, estão sob efeito de drogas ou álcool (que nada mais é do que uma droga legalizada). Se no Terreiro, que é um local onde existe toda uma proteção baseada em fundamentos rígidos, não é permitido beber e incorporar, porque alguém em sã consciência acharia que é permitido fazer isso na rua ou em uma balada? Como diz o título de um excelente grupo de discussão que participo no Facebook, Umbanda TEM FUNDAMENTO, então abrace o fundamento de nossa religião e não incorpore fora do terreiro. Essa é uma situação ruim para todo mundo envolvida, não só para o médium que toma essa precária decisão.

Mas existem médiuns que conseguem incorporar fora do terreiro de uma forma consciente e segura? É caro que sim... mas mesmo com toda experiência do médium (e apenas os mais experientes conseguem), é sempre bom lembrar que os preceitos necessários para se dar passagem a um Guia de Luz são comuns a todos, independente de sua caminhada ou do cargo que exerça na religião, portanto incorporar em casa sob efeito de álcool é errado para qualquer pessoa. Não há distinção entre sacerdote ou um médium iniciante. 

Quando há a incorporação em casa, além de ter que existir todo o preceito já estabelecido (não comer carne, não beber, não manter relação sexual, etc), também é necessário firmar a casa do médium com as forças que fazem a segurança de qualquer local; ou seja, tem que existir uma tronqueira muito bem cuidada para evitar surpresas.

Resumindo, não aconselho ninguém a dar passividade aos Guias de Luz que os acompanham fora do ambiente mais seguro e propício para tal atividade, que é o terreiro onde o médium trabalha. Se surgir uma situação onde você acredite que o Guia pode te ajudar, então firme o pensamento para ele e peça toda a ajuda necessária para ajudar quem precisa. Lembremos que somos médiuns o tempo todo e podemos (e DEVEMOS) estar sempre em comunhão com nossos guias, não precisando necessariamente incorporá-los.

Se for beber, não incorpore.

Axé

Obs: existem exceções, povo lindo.... EXCEÇÕES!


segunda-feira, 11 de março de 2019

Atendimento por Conhecidos

Querem tema polêmico? Então, toooomaaaa polêmica.

Em quase todo terreiro que tive o prazer de conhecer ou trabalhar existe uma regra que é mais ou menos a seguinte: parente não atende parente e parente não cambona parente. Acredito que isso deve ser uma orientação nos terreiros da maioria dos leitores, mas vamso tentar entender o porque isso acontece.

Primeiramente precisamos entender que NÃO EXISTE mais médium inconsciente. Os raríssimos médiuns 100% inconscientes que existem são aqueles que iniciaram seu trabalho na Umbanda há mais de 60 anos. Os médiuns mais novos são semiconscientes. Isso não quer dizer que o médium sabe de tudo que está acontecendo durante o atendimento e que consiga lembrar de tudo. Nesse tipo de mediunidade (que é a mais comum), a pessoa consegue receber os recados que o Guia precisa que ele escute, mas não faz com que o médium tenha acesso às informações do atendimento em si. Sabe os trejeitos dos Guias quando incorporam? Então, eles ficam mais brandos no médium semiconsciente (se vocês acham que falar grosso é a principal característica de um Exu incorporado no médium inconsciente, então revejam seus conceitos). 

A palavra "semiconsciente" na Umbanda denota, também, que as informações ficarão no subconsciente do médium, o que permite a contrapartida, ou seja, informações do subconsciente do médium "interferirem" no atendimento ao assistido. Logicamente não há problema no atendimento de pessoas que o médium conheça e não tenha uma ligação mais íntima, até porque é comum em alguns terreiros os assistidos acabarem conhecendo e conversando com os médiuns. Aliás, como o trabalho é sempre em conjunto entre médium e Guia, nada mais justo do que o Guia utilizar algum tipo de conhecimento do médium para ajudar a solucionar alguma situação do assistido. Isso é o que faz nossa Umbanda ainda mais linda: união entre todos, inclusive médium e Guia.

No entanto, quando existe o atendimento a uma pessoa íntima do médium, não apenas o conhecimento de alguma situação é colocada à tona, mas pode existir o direcionamento do atendimento pelo médium. Mas como assim, Sergio? Quer dizer que o médium pode influenciar o Guia? A resposta pode assustar, mas ela é bem direta: SIM, PODE!!!! A Umbanda trabalha baseada no Livre Arbítrio, então o Guia não pode impedir que seu médium "passe na frente" durante um atendimento. O que ocorre depois é uma consequência imposta pela Espiritualidade junto ao médium, mas aí o estrago pode já ter sido feito. É sempre bom ressaltar que quando o médium "passa na frente" do Guia, não existe necessariamente uma mistificação, mas o animismo fica mais forte e o Guia, mesmo estando ali presente, fica com menos força na incorporação que o médium.

Vamos imaginar uma situação hipotética: um assistido vai no terreiro querer saber sobre abertura de caminhos em seu trabalho. Quem atende é o seu cônjuge. O Guia de Luz pretende falar para a apessoa ir pelo caminho A e fazer tal e tal coisa, mas o médium quer que seu cônjuge faça outra coisa e de uma forma diferente. De forma inconsciente ele vai mandar essa informação para o Guia, que vai passar a informação "errada" para o assistido. É nesse momento que a situação que está ruim tende a piorar. Se fosse para o assistido saber o que seu cônjuge quer falar, que pergunte direto pra ele. Simples assim!

Todos nós, sem NENHUMA exceção, somos dotados de um terrível problema: ego inflado. A cada dia temos que vigiar para não permitir que nosso ego infle ainda mais e nos dê rasteiras, e quando colocamos a mediunidade no meio, a queda via de regra é muito mais dolorida. Para evitar isso os terreiros adotam a prática de não deixar que parentes interajam com os Guias. Não é chatice, é preservação da harmonia.

Bom, vamos para a parte divertida que é identificar os tipos de situações que ocorrem quando temos Guias e conhecidos juntos:


O ÓBVIÃO

Trabalhei em um terreiro em 2013 que existia um determinado médium (muito bom, por acaso) que sempre que recebia seus guias, chamava sua filha para conversar. Ele falava tudo que estava acontecendo na vida da menina, mas coisas que o médium tinha conhecimento. Ou seja, perdíamos pelo menos 5 minutos toda gira esperando que ele falasse com a guria, aquilo que era óbvio, do tipo "hey moça, hoje de manha você tomou água né? Hhhhhmmmm, sei viu"... ou seja, o "obvião"!


BABÁ

Esse aí é o caso mais comum de todos e via de regra envolve marido e mulher ou pais e filhos. A médium recebe seu guia e começa a trabalhar. Seu marido, que foi incumbido de cambonar outra entidade ou até mesmo fazer qualquer outra coisa na gira, presta mais atenção em seu marido do que no trabalho que está acontecendo, o que gera um desequilíbrio gritante na gira. 

Se a médium fizer alguma coisa fora do normal, então, aí só Oxalá na causa. A pessoa só falta ter um ataque cardíaco e sair correndo rsrsrs é ou não e verdade, irmãos?


CHICO XAVIER

Calma, não vou falar do nosso amado e saudoso Chico Xavier (o qual devemos muito respeito e admiração), mas sobre a impressão que algumas pessoas têm sobre seus parentes médiuns. Eu já trabalhei em um terreiro e existia um médium que era novo na religião, mas tinha um histórico muito grande de médiuns em sua família, então ele sabiamente entrou na religião para desenvolver, e acabou fazendo isso de uma forma bastante rápida e precisa (é um médium realente muito bom). O único "detalhe" era sua noiva, que o tratava como se fosse o novo Chico Xavier, dizendo que ele tinha essa e aquela capacidade, e que as outras pessoas que trabalhavam no terreiro não tinham a capacidade ajudá-lo. 

E, logicamente, ele era um médium comum como todos os demais, sem nada que o diferenciasse na parte espiritual e mediúnica. Demorou, mas a sua noiva aprendeu que aquele posicionamento dela era prejudicial, pois causava um constrangimento entre todos os trabalhadores (porque ninguém o considerava o "novo Chico") e atrapalhava o desenvolvimento do médium, que acabava acreditando que ele era algo além daquilo que realmente deveria ser.



Bom, esses são alguns exemplos mais comuns. Você conhece outros? Tem alguma experiência para compartilhar? Então comente aqui ou me mande um WhatsApp (11 99913-5474) para conversarmos melhor.

Que Oxalá abençoe a todos.

Axé

quarta-feira, 6 de março de 2019

Fechamento de Corpo

Antes de começar com esse texto, quero convidar aos leitores de São José dos Campos, Jacareí e região a participarem do Curso Ensinamentos de Umbanda, que será realizado em jacareí todas as quartas a partir do dia 20/03. Me chamem no WhatsApp (11 99913-5474) para maiores informações. 

Olá meus irmãos em Oxalá. Espero que todos tenham passado um ótimo Carnaval, com bastante alegria, diversão e respeito ao ori que carregam. Bom, já que o último texto foi sobre a Quaresma na Umbanda, achei legal trazer pra pauta um texto sobre outro ritual que é comumente realizado nos primeiros dias da Quaresma, que é o tão conhecido "Fechamento de Corpo".

Eu particularmente acho esse ritual um dos mais lindos que existe, pois apesar de não ser originário na Umbanda, ele remete à várias religiões que, de forma ecumênica, trouxeram para o Brasil esta prática. Lá no Século XV os portugueses saqueavam a África, com o intuito de comercializar os escravos (eu tenho nojo toda vez que sou obrigado a escrever isso, mas é a mais pura realidade). No alto da arrogância católica, eles tentavam converter os escravos, mas isso não acontecia da forma esperada. Nas viagens para o Brasil, alguns escravos ao invés de rezarem para os santos católicos, realizavam rituais religiosos voltados basicamente na cultura iorubá, onde eram benzidos e protegidos. No início esses rituais eram castigados pelos europeus, mas quando eles colocavam os pés em terras tupiniquim, sofriam de várias doenças por não estarem (eles, os homens brancos) acostumados. Como seus remédios eram escassos, acabavam recorrendo aos escravos e seus rituais.

Esta foi a semente do ritual de fechamento de corpo como conhecemos atualmente, mas houve uma série de mudanças. O ritual dos escravos eram bastante invasivo e entre as práticas, existia um corte que era feito na pessoa e naquela incisão era colocada as ervas consagradas para o Orixá que regia aquele indivíduo. Na Umbanda eu nunca ouvi falar de rituais que precisem cortar alguém, sendo geralmente feito manipulação de ervas, muito oração e confecção de patuás. 

Antes mesmo da Umbanda se popularizar, o Sertanejo já realizava uma forma adaptada de fechamento de corpo, sendo que um dos maiores defensores desta prática era Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião, líder do Cangaço, que praticamente obrigava seus companheiros de batalha a rezar de forma fervorosa todas as manhãs, pedindo proteção (inclusive para São Jorge, que na Umbanda é sincretizado com Ogum e é nosso protetor). Era muito comum os sertanejos andarem com pequenos patuás de proteção o tempo todo. 

O Catimbó também é uma religião que utiliza o ritual de Fechamento de Corpo, sendo que nossos irmãos juremeiros realizavam inúmeras rezas específicas, além de "cruzar" a pessoa com pinga curtida com a casca da Jurema e muita defumação. 

A Umbanda, sendo uma religião moderna como sempre foi, acabou "emprestando" um pouco de cada ritual e estabeleceu o seu próprio. Vale sempre a pena ressaltar que não existe uma forma única de se fazer algo dentro da Umbanda. O que existe é algo com ou algo sem fundamento. Se tem fundamento, pode e deve ser feito; se não tem, deve ser repensado. Eu vou citar alguns dos rituais que conheço para fechamento de corpo, mas lembrando que de forma alguma deve ser feito por pessoa inexperiente, ou substituir a forma como o terreiro que você trabalha ou frequenta atua. Confie no seu Pai ou na sua Mãe de Santo. Eles sabem como agir da forma correta com seus filhos.

Vamos aos rituais:

RITUAL 1

Ingredientes: 

Um pote com azeite e dentes de alho;
1 vela palito cruzada preta e branca ou somente branca.

O azeite junto com os dentes de alho são benzidos pelos Pretos Velhos e ficam energizados pela vela firmada e consagrada a Obaluaiê.

Cada um dos médiuns tem o sinal da cruz feito na testa, no peito, nas mãos e nos pés (sempre com o óleo ungido). Este cruzamento pode ser feito pelo Sacerdote da casa ou, em alguns terreiros, ele é feito entre os filhos (são divididos em duplas e um cruza o outro), o que representa a união, harmonização e a capacidade de benzimento de todo médium umbandista.

No final do ritual, dá-se passagem aos Exus dos dirigentes do Terreiro (ou de médiuns de consulta), os quais realizam o fechamento do trabalho, imantando sua energia de proteção junto aos médiuns.

...

RITUAL 2

Ingredientes: 

Um pote com azeite e dentes de alho;
1 vela palito cruzada preta e branca ou somente branca.
Pano preto (o quanto necessário);
Olho de Cabra (1 para cada médium);

O ritual de benzimento com o azeite e o óleo é o mesmo, porém junto ao azeite sendo energizado, também é colocado os olhos de cabra e o tecido. O tecido é costurado em volta do olho de cabra, e naquele momento é consagrado como patuá, e deverá ser usado pelo médium o tempo todo durante a Quaresma.

...


RITUAL 3 (de Tata Caveira)

Este é um ritual que aprendi com o amigo e mestre Tata Caveira, e conforme ele mesmo diz, "não é um daqueles rituais que devem ser escondidos". 

Ingredientes:

1 vela palito preta;
1 vela palito branca;
1 vela palito vermelha;
1 fio de contas pequenas preto e pequeno (que caiba no bolso);
Barro ou argila;
Folha de mamona (bastante);
Defumação com as ervas de Omulu + casca de alho.


O Exu (incorporado ou irradiando sua energia no médium) deve consagrar as folhas de mamona. Sob essas folhas é colocado o barro (ou a argila). Em cima do barro os fios de conta (1 para cada médium) são colocados. As velas são dispostas em torno das folhas, sendo a preta do lado direito, a vermelha no direito e a branca no centro (parte de cima). Elas deverão ser firmadas e consagradas para Exu Tata Caveira e ficarão imantando tudo por pelo menos 30 minutos. 

Cada uma das guias deverá ser retirada daquela firmeza pelo Guia incorporado e entregue individualmente para cada médium, que também receberá as bênçãos no passe de Seu Tata Caveira.

Todo o ritual deve ser realizado com a defumação queimando na porteira do terreiro.

O médium deverá usar o fio de contas cruzado o tempo todo, preferencialmente em local não visível (por isso pode ser pequeno).

O barro e as folhas de mamona deverão ser descarregadas no cemitério.

...

RITUAL 4 (dos Baianos)

Ingredientes:

1 vela palito branca para cada médium;
1 vela palito vermelha ou azul escuro;
1 vela palito branca;
1 pedaço de tecido vermelho ou azul escuro para cada médium;
1 medalha pequena de metal (o Guia Espiritual vai intuir de qual santo ou Orixá será usado);
Linha de costura;
Pemba ralada;

A pemba será ralada enquanto se canta ponto de Iansã, visando consagração.

O tecido vermelho ou azul (dependendo de qual cor seu terreiro cultua Ogum) ficará disposto, já cortado em tamanho pequeno, em alguma vasilha e será firmada uma vela vermelha ou azul (idem ao caso do tecido).

As medalhas ficarão em outra vasilha, imerso em água mineral, sendo consagrada aos Baianos com a vela branca;

As medalhas deverão ser costuradas no pedaço de pano. Cada médium confeccionará este amuleto para si.

Cada médium será cruzado com a pemba por um Baiano incorporado, que também consagrará o amuleto. No final cada médium receberá a vela palito (também consagrada na hora pelo Guia), a qual deverá ser firmada na frente do congá, em intenção a Ogum.


Esses são os rituais que mais conheço dentro da nossa amada religião. Você conhece algum outro e deseja compartilhar? Me mande uma mensagem.

Axé





quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A Quaresma e a Umbanda

Olá irmãos em Oxalá. Tudo bem Espero que sim. Desculpem pela demora na atualização, mas passei os últimos dias dedicando meu tempinho diário de Umbanda para a criação do Curso Sabedoria de Umbanda, que será ministrado a partir do dia 13 de março na Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar em Jacareí, SP.

O assunto que resolvi falar a respeito é, adivinhem só, polêmico, porque envolve uma série de achismos, mas muito interessante de ser estudado, porque é em si só religioso em vários aspectos. Já que estamos às vésperas do Carnaval, falaremos sobre a Quaresma na Umbanda. Temos que ter um cuidado maior? Usar contra egum? Tapar o umbigo? Pode ou não fazer gira no terreiro? Se puder, é melhor trabalhar com a Esquerda ou com a Direita?

Inicialmente é sempre bom lembrar que a Umbanda não é uma religião cartesiana, como o catolicismo, por exemplo, onde pegamos um livro sagrado e o seguimos conforme nossas interpretações. A Umbanda é uma religião moderna, portanto não existe um certo e um errado, o que existe é algo com e algo sem fundamento. Então se esse texto apresentar os fundamentos ideais para a crença de quem ler, ok, se não, Oxalá abençoe e que o fundamento daquilo que cada um segue consiga nortear da melhor forma possível seus passos na religião.

Quaresma é algo criado pela Igreja Católica que compreende o período entre a Quarta-Feira de Cinzas e a Páscoa, e serve para o católico focar em duas coisas principais: piedade e caridade, através do jejum e da abstinência (Direito Canônico, Cân.129). Quem já pôde presenciar o ritual de início da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas sabe que é algo realmente muito bonito e envolto em uma série de mistérios. Como a Quaresma é algo que vem diretamente de interpretação bíblica (Daniel 9,3 e Mateus 11,21, por exemplo) seria natural que nossos irmãos evangélicos adotassem, à sua forma de interpretação, algo relacionado ao tema. O Doutor em Teologia, e pastor evangélico, Odalberto Domingos Casonatto, alega que a Quaresma compreendida apenas nos 40 dias entre Carnaval e Páscoa não se justifica, porque as práticas do jejum, esmola e oração devem ocorrer o ano inteiro.

Eu pesquisei bastante e descobri que não existe rigorosamente nada com consistência na literatura ou em qualquer prática cristã que fale sobre um período "mais pesado", onde o fiel será atentado pelos espíritos ou algo do tipo, ou, ainda, que exista uma provação maior ou menor ao católico. Então de onde veio a ideia que muito umbandista tem de que a Quaresma é um período de maior provação e, até mesmo, no qual espíritos obsessores são soltos par nos atentar o tempo todo? Será que a nossa Quaresma é diferente?


Para responder esta pergunta, temos que voltar a um assunto que já tratamos aqui no COCAR, que é o Holopensene, ou o famoso "Pensamento Coletivo". Se existe uma coisa que todo umbandista acredita é que o pensamento transforma para o bem e para o mal. Se uma pessoa com fé o suficiente consegue emanar pensamentos positivos de cura, então o que dizer sobre milhões de pessoas pensando a mesma coisa ao mesmo tempo, com um grande foco? Não tem dúvida: aquilo vai acontecer. E é exatamente essa a questão com a Quaresma e a Umbanda. Sabemos que a base de médiuns da Umbanda foi feita basicamente por kardecistas que se converteram; se os kardecistas ainda hoje possuem um forte vínculo com o catolicismo, na anunciação da Umbanda, décadas atrás, isso era ainda maior. É esse basicamente o motivo de adotarmos em nosso calendário, festividades e rituais católicos. 

Acontece que a Umbanda é uma religião sem um direcionamento de um líder específico (não temos um Papa), então a Quaresma com o passar do tempo começou a ser vinculada em nossa religião com as provações pelo diabo que Jesus sofreu no deserto durante 40 dias. Um começou a falar isso, outro acreditou e passou pra frente e assim por diante até que passou a existir um pensamento coletivo em que isso passou a ser verdade. Só que como é que os espíritos obsessores ficaram "mais fortes" nesse período? Esse pensamento coletivo fez isso por si só? Não, esse tipo de coisa não acontece como mágica. O que pode, sim, acontecer é uma corrente de pensamento deixar o ambiente mais pesado ou mais leve e isso atrair um determinado tipo de espírito, mas não seria algo colossalmente grande como existe na Quaresma Umbandista. 

A Espiritualidade Amiga sempre utilizará todos os meios necessários, respeitando o Livre Arbítrio existente, para ajudar a todos em nossa evolução. A partir do momento que essa Holopensene da Quaresma foi criada no Astral, nossos amigos no Plano Espiritual conseguiram utilizar isso para ajudar nós, umbandistas, em nossa Evolução Espiritual (ou a famosa Reforma Íntima), para isso, sob a supervisão dos Guias de Luz que atuam para nos proteger dentro de nossos passos corretos (já ouviram falar dos Exus? Então, olha eles aí novamente), autorizam que espíritos obsessores atuem perante nós para que não apenas nos atentem, mas principalmente tenham condições de serem resgatados. É isso mesmo, irmãos. Durante a Quaresma é a época em que existe a maior quantidade de resgates de obsessores para a Luz Divina. Mas como isso acontece? Simples.... com muita oração. Então, remetendo ao conceito inicial do que é a Quaresma, podemos dizer que o conceito é igual (prece e vigília) mas com um objetivo distinto (resgate de espíritos obsessores).

Quando oramos e vigiamos, conseguimos não apenas ajudar os nossos irmãos que precisam de luz para seguir sua caminhada, mas nós também nos ajudamos com a nossa evolução. A Quaresma, portanto, irmãos, é uma grande oportunidade de evoluirmos espiritualmente, através de um contato mais forte com Deus e praticando aquilo que o Caboclo das Sete Encruzilhadas orientou lá atrás, em 1908: CARIDADE.

Eu particularmente não pratico qualquer tipo de jejum, mas entendo quem utilize essa prática para se confortar espiritualmente na Quaresma. O que eu preciso aconselhar é que o jejum em si não representa rigorosamente NADA se não for acompanhado de vigília de seus atos e oração. E se fizer jejum, que seja algo íntimo, sem existir uma publicidade sobre isso (seu irmão de terreiro não precisa saber que você faz jejum). 

Quero finalizar dizendo que, segundo o que acredito, existem os Tronos da Umbanda. Quando falamos de Evolução, quem rege é Obaluaê, então fiquem sempre em sintonia com a evolução deste Orixá, especialmente durante a Quaresma.

Bom, como somos umbandista e gostamos de rituais, simbora passar algumas instruções:

TAPAR O UMBIGO

Você já deve ter escutado isso de algumas pessoas e até mesmo de Guias. O fundamento de tapar o umbigo é bastante simples: o Chacra do Plexo Solar é o responsável pela captação de energia, e ele fica localizado exatamente na região do umbigo. Quando cobrimos o umbigo, em tese tapamos a entrada de energia negativa.

É claro que apenas se taparmos o umbigo não quer dizer nada (uma camiseta tapa o umbigo da mesma forma que um esparadrapo). O que deve ser feito é consagrar algum tipo de elemento da natureza que tenha a propriedade de captação de energia de baixa vibração. O elemento mais comum encontrado é no metal, então por isso podemos dizer que colocar uma moeda CONSAGRADA no umbigo pode ajudar bastante.

Para consagrar, basta colocar a moeda (ou o elemento de metal) em um local bastante limpo e firmar uma vela a Ogum (que é o Orixá Guerreiro, protetor, o qual vibra no metal). Depois disso, coloque a moeda consagrada no umbigo, com a ajuda de um esparadrapo.


PEDRA DE PROTEÇÃO

Existem várias pedras que possuem a propriedade de absorção de energias de baixa vibração. A mais conhecida pela sua efetividade é a Turmalina Negra. Apesar de ser extremamente forte em captar essas energias, a turmalina demora muito para descarregar essas energias, então não é aconselhado utilizá-la encostada ao corpo (colares por exemplo). A forma mais comum é utilizar dentro das bolsa ou no bolso da calça. 

Recomenda-se toda semana "descarregar" a pedra, deixando no chão durante uma madrugada inteira, firmando uma vela a Obaluaê durante o processo. Se você não tem a disponibilidade de colocar a turmalina na terra, pode deixar imerso em água com sal grosso que também funciona.


CONTRA EGUM

Pronto, chegamos ao assunto polêmico. Sergio, você é doido? Ficar falando de prática do Candomblé em um texto de Umbanda? Ora irmãos, e não estamos falando de Quaresma, que é do Catolicismo? Então, vamos falar de contra egum SIM!

Brincadeiras a parte, eu não recomendo utilizar um contra egum se você não tem rigorosamente todo conhecimento do fundamento que envolve esta prática. O contra egum vem do Candomblé e logicamente não tem relação NENHUMA com o Candomblé.

O contra egum é uma trança de palha da costa e é utilizado amarrado (sem nós) no braço da pessoa. A palha da costa é consagrada a Obaluaê, e quando consagrada da forma correta e após os banhos para Obaluaê tem a capacidade de afastar os espíritos obsessores. 

O seu uso para os umbandistas é recomendado apenas para os médiuns que trabalham em locais onde exista notadamente a concentração grande de desencarnados obsessores, como hospitais, bares, presídios, etc. 

Lembrando novamente: FAÇA APENAS SE VOCÊ CONHECER E RESPEITAR TODOS OS FUNDAMENTOS DESTE RITUAL.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Incorporação de Orixá

Olá povo lindo do Axé. O assunto de hoje causa sempre muita polêmica, porque diz respeito a algo que anda entre Umbanda e Candomblé, que apesar de serem religiões distintas, ainda existe uma estranha mania das pessoas acharem que um depende do outro, e boa parte dos umbandistas sofre do que eu chamo de "complexo do cachorro vira-lata" (salve Nelson Rodrigues), pois infelizmente pensam que o Candomblé é melhor ou "mais forte" que a Umbanda. Esse complexo, além de trazer coisas como descobrir o Orixá pelos búzios (que não, NÃO é um fundamento da Umbanda), gera em boa parte dos umbandistas uma necessidade de copiar os rituais do Candomblé.

Eu entendo que a Umbanda é uma religião moderna que traz para seu cerne vários conceitos de outras religiões, inclusive do Candomblé, mas tudo tem que ser feito com fundamento, e não apenas pegar parte de um ritual que tem seu fundamento em outra religião, e trazer para a Umbanda. É a mesma coisa que pegar um capítulo de um livro e baseado apenas neste capítulo querer resumir o livro todo e ainda se dizer especialista. Mas, Sergio, o que isso tem a ver com incorporar ou não incorporar Orixá na Umbanda? Simples, no Candomblé, conforme dita os conceitos daquela religião, os Orixás foram indivíduos dotados de características especiais que os diferenciavam e, já encarnados eram considerados divindades. Com o tempo, ascenderam ao Plano Espiritual, aonde vivem e comandam tudo até hoje.

Baseado nisso, pelo fundamento do Candomblé, existe a incorporação do Orixá em si em algumas casas e de representantes desses Orixás em outras. Então é crível que ali, sim, existe a manifestação de um Orixá propriamente dito. Na Umbanda, no entanto, não podemos dizer isso, simplesmente porque independente da vertente que o terreiro siga (alguns acreditam que os Orixás existiram encarnados e ascenderam e, ali, se tornaram divindades e outros acreditam que os Orixás são forças da natureza), sabemos que não há como um único indivíduo (Orixá) possa incorporar em mais do que uma pessoa ao mesmo tempo (Orixás seriam INDIVÍDUOS). O que existe na Umbanda não é a incorporação propriamente dita do Orixá, mas sim de um CABOCLO que atua na vibração daquele Orixá.

Neste ponto, vale a pena lembrar que existem vários níveis hierárquicos mesmo na Espiritualidade, sendo que os caboclos que atuam nos terreiros, incorporados e prestando atendimento, são os Guias que acompanham uma pessoa. Além deste caboclo, existem os capangueiros, que são representantes dos Orixás dentro de cada falange. Esses capangueiros são os responsáveis em trazer para o terreiro, através de um médium, a "força bruta" daquele Orixá que representa. É por este motivo, que na maioria das vezes eles dançam trazendo seu Axé e não falam absolutamente nada, pois não faz parte de sua missão fazer isso. Quando manifestado em um terreiro, o faz para energizar com a força daquele Orixá a casa, os médiuns e consulentes.

Vimos que na Umbanda não se manifesta Orixá, mas sim Caboclo. Isso é polêmico? Sim, certamente... mas vai ficar ainda mais. E se eu disser que na maioria das vezes não é nem Caboclo que incorpora no médium, mas o próprio médium? E, ainda por cima, não é animismo! É uma situação um pouco mais complicada de entender, mas ela vem para justamente respaldar alguns dos conceitos mais tradicionais da religião, que é o tal "pai ou mãe de coroa" de alguém. Vamos entender:

Todo mundo tem algo que chamamos de ori. Nosso ori serve basicamente para duas coisas: contato com o Plano Espiritual (quando existe incorporação, ela se inicia através de nosso ori, por isso é considerado algo sagrado) e armazenamento de todas as informações que recebemos do Plano Espiritual. Entre essas informações, está  as informações que o médium recebe da vibrações de seu Orixá de Coroa (já vimos o que é isso). Vamos pegar meu caso como exemplo: eu sou filho de Oxóssi (quer dizer que Ele é meu Orixá de Coroa), então desde meu nascimento recebo as informações da força de Oxóssi e essas informações são armazenadas no meu inconsciente, o que faz com que eu tenha algumas das características deste Orixá. 

Como esta informação está armazenada em meu inconsciente, de uma forma natural (e isso é científico, não se trata de especulação) o meu consciente é sempre "abastecido" por essas informações. Quando o médium de forma consciente se concentra para dar passividade ao Orixá, na maioria das vezes não é um guia que se aproxima, mas as informações do Orixá em si que estão impressas na mente do médium que se manifesta. Se eu puxar na memória, inúmeras vezes escutei de guias "salve sua coroa" ou algo parecido. Quando isso acontece, eles estão saudando o Orixá que carregamos em nosso coroa (ou em nosso ori). Então é certo dizer que todos nós carregamos a essência do Orixá e é natural e muito lindo quando há a manifestação desta energia junto ao médium. 

Por essas e outras eu disse lá no começo do texto que este assunto é bastante polêmico. Nós não manifestamos o Orixá; nós manifestamos ou um Caboclo que atua na vibração daquele Orixá, ou manifestamos nosso inconsciente que está irradiado com a energia do Orixá. E tudo isso é muito lindo, pois esta complexidade que é voltada para o crescimento do indivíduo que fortalece nossa religião.

Salve todos os Orixás da Umbanda
Salve nosso Ori

Axé

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Tata Caveira


TATA CAVEIRA

Eu respeito todas as entidades que trabalham na Umbanda da mesma forma. Acredito que todas são maravilhosas e se prestam à Caridade, então por si só isso já me trona uma fã de carteirinha de nossa religião e dos trabalhadores que a sustentam. Existem, porém, alguns guias que tenho maior afinidade e, por isso, acabo me inteirando mais de suas histórias e conhecendo sua forma de pensar e agir dentro da religião. Certamente uma dessas entidades é o Exu Tata Caveira, o qual me acompanha e me dá a honra de ser seu aparelho para trabalhos nos terreiros.

Quero dizer que o que falarei aqui não se trata de uma regra de como são os Exus desta linha, afinal de contas cada um desses guias tem a sua história e trabalham com o nome do Falangeiro que o doutrinou dentro da religião. O Seu Tata que trabalha comigo pode ser diferente daquele que trabalha com o leitor, que pode ser diferente daquele que trabalha com o amigo do leitor. Existem, sim, pontos em comum que falarei a respeito, mas esse texto específico será, como editei o texto agora e consegui perceber, um verdadeiro desabafo deste maravilhoso Guia.

Outro dia conversava com Seu Tata a respeito de como eu deveria agir em uma situação específica. Sua resposta foi bastante clara, como há muito ele não era (geralmente eu sou intuído, mas desta vez eu escutava de forma bastante clara como se ele estivesse ali). Ele me disse algo assim:
"Você me conhece há tempo o suficiente para saber que não vou te colocar neste ou naquele caminho. Você é inteligente para saber distinguir o certo do errado, então basta fazer isso e tomar a decisão certa". Sim, eu já sabia disso, mas mesmo assim queria uma dica, algo que pudesse me amparar. Foi então que tive uma lição de humildade e pude entender um pouco de sua história. As palavras dele me parecem ainda mais claras quando busco na memória recente:

"Seu conhecimento me parece estar minguando a cada dia. Nós dois somos trabalhadores da religião de Umbanda, com a única diferença que eu fui abraço pela Espiritualidade e, depois de muito penar, abracei de volta. E você? Você abraçou de verdade a Umbanda, ou gosta de falar que é umbandista? Se você tem o conhecimento do que deve e do que pode fazer dentro dos ensinamentos que teve, então faça. Se não tiver, quer dizer que seu desequilíbrio com Aquele que carrega na coroa está maior do que eu pensava. Se tem o conhecimento e não pratica, então te falta fé, e trabalhador da Espiritualidade sem fé, não é nada além de uma carcaça a prejudicar os outros. E digo prejudicar porque você só consegue dar aquilo que tem, então se alguém buscar conforto espiritual em você, não terá nada de volta além de mais dúvidas."

A resposta que eu tive foi quase um soco no estômago e me fez refletir muito a respeito de quem eu sou dentro da religião e o que posso ser. Baseado nisso, perguntei a Seu Tata se ele poderia me falar um pouco de sua história, não para que eu seguisse à risca (lógico que não), mas para que pudesse entender um pouco mais como se dá a evolução de um espírito (encarnado ou não) na Umbanda. Sua resposta foi:

"Você bem sabe que não gosto de contar histórias, porque na minha situação atual, onde eu carrego o nome de meu Mestre, remeter ao meu passado e contar isso para as pessoas pode me trazer de volta a vaidade que me fez cair. Eu vou te explicar algumas das partes principais de quem fui e como me desenvolvi, para que você perceba o como podemos ser iguais. Não entenda isso como minha história pessoal, mas como uma lição.

Quando encarnado cometi vários atos que eram errados sem sombra de dúvidas. Eu era inteligente, tinha conhecimento do que era certo e do que era errado, e por minha única vontade decidi fazer as coisas que eram erradas. Quando agimos de forma correta, damos um pequeno passo para frente; quando agimos de forma errada, corremos para trás. Minha caminhada errada me fez regredir muito, me tornando tudo aquilo que eu não poderia ser: pensava apenas em mim e não me importava em pisar nas outras pessoas, por qualquer motivo que fosse. Eu achava que era a pessoa mais importante que existia, e aquilo me colocava em uma posição onde eu precisava ser adorado pelos outros. Meu ego era cheio de volúpia enquanto vivo, e quando desencarnei percebi que ninguém chorava por mim, então meu coração se encheu de ódio.

Passei por incontáveis anos fazendo o mal pela simples vontade de fazer. Ao contrário do que muitos contam, existem espíritos obsessores que trabalham sozinhos e não recebem nada em troca, além da angústia das outras pessoas. Em determinado momento fui resgatado por aquele que se tornaria meu Mestre. Se passei décadas praticando maldade, passei muitas outras mais aprendendo que aquilo era errado e sendo doutrinado para trabalhar visando reverter tudo aquilo de errado que tinha feito antes. Quando pude aprender o suficiente para trabalhar na Umbanda, aprendi minha última e maior lição: meu Mestre Falangeiro, que havia me curado a alma, tirou qualquer resquício de vaidade ao me tirar a pele, os músculos e os órgãos. A partir daquele instante eu seria Caveira como ele se apresentava, porque todos temos nossas caveiras no corpo, portanto seria minha aparência esquelética o símbolo de que não há distinção física alguma entre os seres, e o que importa é a evolução de cada um.

Quero que você entenda que quando você sabe que algo é errado e mesmo assim faz aquilo, está andando para trás; está se tornando uma pessoa má, e tudo aquilo que você fizer nesta vida vai te acompanhar para sempre. Você não sabe o dia que vai desencarnar, então não deve ficar com esta sua mania de achar que dará tempo para arrumar tudo aquilo de errado que fez. Pode ser que não dê, e se isso acontecer o que você vai fazer a respeito? Chorar a oportunidade que perdeu? Se tornar um dos obsessores que tanto nos dá trabalho? Eu só conheci a Umbanda depois de muito tempo após desencarnar, mas você não. Você tem a oportunidade de seguir um caminho muito melhor do que eu segui, sabendo de coisas que eu não sabia e tendo instrumentos para melhorar que eu não tive. Então abrace a Umbanda como eu fiz. Não faça isso da boca para fora, porque falar que é umbandista é fácil. Haja como umbandista."

Sabe quando você fica atônito por um bom tempo, completamente sem reação? Pois bem, eu fiquei desta forma. Passei alguns dias assimilando tudo o que foi dito e decidi rever alguns posicionamentos em relação a coisas que eu fazia de uma forma automática, incluindo a minha atuação dentro do terreiro que trabalhava. Existiam situações que não cabem aqui expor, mas que não eram de meu agrado. Eu sempre consegui ter o entendimento que os terreiros de Umbanda são diferentes um do outro e sei que não existe um certo e um errado (religião não é matemática), mas sempre tive um olhar crítico em demasia quando algo acontece de uma forma que eu não concordava ou que eu tinha aprendido de forma diferente. Eu decidi perguntar a Seu Tata o que ele entendia sobre esse assunto. Não pedi orientação, apenas sua opinião:

A forma certa de girar em um terreiro de Umbanda é se melhorar a cada trabalho feito. Quando a assistência está cheia de pessoas, quer dizer que o terreiro é bom, que ajudou alguém que convidou outra pessoa. Se você acha que consegue fazer melhor que quem dirige a casa, então abra um terreiro para comandar. Mas faça isso sabendo que para alguém a forma que você vai decidir o que será feito e a forma como será feito estará errada. Eu vou te acompanhar sempre em todos os lugares que você for porque me foi dada a incumbência de te ajudar em sua evolução da mesma forma que você me ajuda, mas a partir do momento que você fizer algo que eu considere errado dentro de um terreiro que decida tomar a frente, farei você aprender da pior maneira o que é humildade, e ser humilde passa por aprender com aqueles que vieram antes de você. Se não te couber, aceite a diferença, não diga e nem pense que está errado. Se fizer isso, quer dizer que tem um remédio que não existe para uma doença que ninguém sabe qual é. Você precisa entender que não é melhor e nem pior que qualquer pessoa.

Se uma casa não te agrada, peça o afastamento como tem que ser: respeitando quem está à frente e todos os trabalhadores. Procure uma casa que te agrade por completo e quando não encontrar, volte humildemente pedindo perdão.

Essas conversas me mostram como sou pequeno diante a Espiritualidade e o como ainda temos todos que evoluir para termos o entendimento que esses Guias de Luz possuem. Agradeço sempre pela oportunidade de ser amparado por todos esses Guias maravilhosos, em especial Seu Tata Caveira, que me ajuda muito em tudo, inclusive quando me dá esse tipo de bronca (aliás, acho que me ajuda mais ainda quando “come meu toco”).

Falado um pouco sobre a história pessoal entre Seu Tata e eu, vamos explicar como atua a linha dos Caveira num geral. Primeiramente precisamos esclarecer que a Linha dos Caveira, como são conhecidos os Exus de Cemitério (ou Calunga Pequena), é formada por alguns poucos falangeiros (lembram quem são, né?) que atuam rigorosamente da mesma forma. A razão de existir mais de um falangeiro é porque esses indivíduos que aceitaram a missão de trabalharem na Umbanda foram evoluindo e tiveram afinidade com Obaluaiê, o Orixá que atua justamente na Calunga Pequena. Creio que com o passar dos anos novas falanges na Linha dos Caveiras surgirão para nos auxiliar na Umbanda.

Não consigo dizer ao certo quais são todos os falangeiros na Linha dos Caveiras, mas certamente os mais conhecidos são: Exu Caveira (o primeiro falangeiro desta Linha a se manifestar), João Caveira, Sete Caveiras e Tata Caveira. Existem outros guias do Cemitério, mas não são da Linha dos Caveira (Exu Sete Catacumbas, por exemplo).

Já vimos que Tata Caveira é regido por Obaluaiê, então de uma forma natural uma de suas principais funções é atuar no afastamento de doenças e males espirituais que possam somatizar na pessoa e causar algum dano físico. Tendo essa missão de atuar na parte espiritual revertendo ataques de espíritos obsessores que possam causar algum tipo de doença, a Tata Caveira foi dado o conhecimento para entender e manipular qualquer tipo de magia (seja de alta ou de baixa vibração). Esse conhecimento transformou Tata Caveira em um verdadeiro Mestre da Magia, sendo uma das poucas linhas da Umbanda a conseguir desfazer sozinha trabalhos de magia com o uso de sacrifícios para os kiumbas.

Sabido de sua missão, é muito raro encontrar algum Guia que atua na linha de Seu Tata Caveira que fala muito a respeito do que faz, ou que se vangloria de seus feitos, isso porque o falangeiro Tata Caveira exige humildade de seus subordinados, pois sabe que o ego é traiçoeiro e pode derrubar quem quer que seja, inclusive algum Guia de Luz.

Gostou de conhecer Sr.Exu Tata Caveira? Bacana né? Vou ensinar abaixo como arriar uma oferenda de AGRADECIMENTO (não peçam nada) para este guia maravilhoso:

Vocês precisarão de:

1 Alguidar (médio ou grande)
Farinha de milho branco
Farinha de milho amarelo
1 cebola roxa
7 pimentas vermelhas
3 bifes de fígado
Azeite de dendê
1 garrafa de cachaça
3 velas pretas
3 velas brancas
1 vela cruzada preta e vermelha
3 charutos

  • No alguidar coloque primeiro a farinha branca e regue com bastante cachaça. Misture com as mãos, colocando todas as suas boas vibrações naquele ato.
  • Repita com a farinha amarela.
  • Coloque as duas farinhas no alguidar, dividindo um lado a branca e do outro lado a amarela.
  • Frite no azeite de dendê os bifes (não muito, apenas para não sair mais sangue) e distribua em cima das farinhas.
  • Corte a cebola em 7 rodelas e distribua uniformemente sob a farinha e os bifes.
  • Enfeite com as pimentas.
  • Regue o padê com uma boa quantidade de cachaça e depois com o dendê.
  • No lado de fora do alguidar coloque a garrafa de cachaça
  • Firme as velas, colocando na parte de cima a vela cruzada e de um lado as velas pretas e de outro as brancas.
  • Acenda os charutos e para cada um deles, dê 7 baforadas no padê, pedindo que Seu Tata receba aquela oferenda de bom grado. Coloque os charutos ou na frente do alguidar (do lado de fora) ou de uma forma bonita e harmoniosa dentro do alguidar (com o lado da chama para fora).


Faça isso com muita FÉ e GRATIDÃO a Tata Caveira, nosso amado Guardião.

Obs: se você já tiver uma boa firmeza, peça orientação a seu sacerdote para arriar no cemitério. Se não, eu aconselho a fazer esta firmeza no terreiro mesmo.

Ninguém é tão bom que incorpore Jesus Cristo e nem tão ruim que incorpore o Diabo” – Tata Caveira.