Como identificar isso e, principalmente, o que fazer em relação a essas situações? Vamos tentar ajudar a esclarecer um pouco:
Já comentei certa vez um caso ocorrido na cidade de Itupeva (interior de São Paulo), onde um pai de santo foi acusado de assediar sexualmente uma assistida menor de idade. Vou citar este caso pois a justiça já determinou sua culpa, então não correrei no erro de ser injusto. O tal pai de santo se dizia receber um Exu Tranca Ruas (sim, ele usou o nome do Seu Tranca!!!) e um Boiadeiro e, com esses supostos guias, realizava trabalhos de desobsessão com a Assistência, sendo que em alguns casos esse trabalho era realizado em um quarto fechado, apenas o médium e o assistido.
Uma menos de idade (16 anos na época) foi "tratada" pelo médium que a convenceu de que para que ele fosse curada dos obsessores que estavam com ela, teria que fazer sexo com o Exu. Fato é que ela manteve relação sexual com o médium (que fingia estar incorporado com Exu e Boiadeiro) através de constrangimento e fraude (é o termo jurídico pra aquela palavrão que todos conhecemos) e acabou engravidando. Não vou entrar no mérito se era óbvio que aquilo era uma grande marmotagem do médium, pelo simples fato da pessoa ser menor de idade e não ter conhecimento sobre os procedimentos ritualísticos. E, irmãos e irmãs, a culpa NUNCA será de quem é violentado, mas de quem violenta, e isso pra mim é bastante claro.
Existem outros casos em que o médium tem tal nível de animismo que cruza a tênue linha existente e acaba mistificando, fazendo uma "consulta" com entidade (geralmente escolhem Exu ou Pomba Gira) na qual as vontades pessoais do médium se sobressaem. Tivemos relatos de pessoas que se sentiram incomodadas com o atendimento de um determinado Guia e resolvemos estudar a fundo o que aconteceu. Fizemos isso não com uma, mas com pelo menos uma dúzia de casos e conseguimos identificar um padrão de comportamento desses médiuns que envergonham nossa religião. Fiquem atentos ao esses padrões (são INDÍCIOS, ok, não PROVA de nada, portanto não julguem o médium antes de ir para o segundo passo que mostraremos aqui):
- Médium que atende exclusivamente com Exu, ou que em todo "trabalho fechado" traz Exu ou Pomba Gira para tratar o assistido;
- Médium bebe mais do que o normal (já sabemos que o Guia precisa de uma quantidade pequena de álcool para trabalhar, portanto quando um guia exagera, deixa de estar ali e a mente do médium se vê presente, inclusive atraindo obsessores);
- Os passes feito pelos Guias geram muitos toques nos assistidos (principalmente quando é um médium homem atendendo mulher ou vice-versa). Os chapéus e demais objetos dos guias servem para evitar que haja um excesso de toque;
- O "guia" fala muito sobre a vida sexual do assistido, mesmo sem que ele ele (o/a assistido/a) tenha sequer aventado aquele assunto. Se nós, meros mortais, temos o mínimo de noção para não fazer esse tipo de comentário, qualquer outra linha de trabalho da Umbanda tem MUITO MAIS noção do que nós, então se fala bobagem não é Guia, é médium;
- Atendimento feito em local fechado NÃO EXISTE!!! Umbanda não é uma religião com rituais desconhecidos, completamente obscuros ao ponto de precisar que seja feito sem que ninguém veja. Todo ritual deve ser acompanhado pelo menos por 2 outros trabalhadores da casa (além do médium que atenderá com o Guia incorporado), preferencialmente de gêneros distintos, e que não seja amigos pessoais do médium que fará o atendimento;
- Quando um guia destaca os atributos físicos de forma corriqueira dos assistidos e/ou trabalhadores, é um indício de que o animismo está mais forte e é o médium que dita as palavras, não necessariamente a força presente. Uma pomba Gira incorporada em um médium homem não precisa chamar de "gostosa" ou "peituda" alguém, ao ponto de constranger essa pessoa. Um Exu incorporado em médium mulher não precisa chamar um assistido homem de gostoso ou algo parecido. Novamente digo: se temos a noção de respeito ao próximo, a Espiritualidade tem ainda mais.
- Quando um guia fala mal do cônjuge ou namorado(a) de quem está atendendo, especialmente em relação à vida sexual dele ("sua esposa é frígida" ou "seu marido é impotente" - sim, aconteceu isso) então aí é mais provável ainda que esteja ocorrendo uma grande mistificação, o que é inaceitável na Umbanda.
Esses são alguns exemplos pontuais de situações que ocorrem e todo mundo deve ficar bastante atento, e quando digo todo mundo, é TODO MUNDO... de assistência até Pai ou Mãe de Santo, afinal de contas o errado é errado quando temos conhecimento dos fatos e não fazer nada nos torna cúmplices (e isso é um conceito jurídico, não achismo pessoal).
Mas vamos lá... surge uma situação dessas. O que devemos fazer?
- A primeira coisa a ser feita é conversar com o dirigente do Terreiro. Muitas vezes quem toma aquela atitude é um médium da corrente, não necessariamente fazendo parte do que chamamos de "Linha de Frente". Se a explicação for MUITO convincente, mas muito mesmo, daquelas que não deixa nenhum tipo de dúvida, então EXIJA que o(a) dirigente fale com o(a) médium arrolado para que preste esclarecimento. Se mesmo assim a explicação não convencer ou não exista essa conversa, o assistido deve procurar uma Delegacia de Polícia para realizar abertura de Boletim de Ocorrência;
- Se a explicação não for nada razoável, então o assistido deverá procurar a Delegacia de Polícia imediatamente. Vale lembrar que mesmo sendo uma instituição religiosa, não estamos de qualquer forma acima da Lei do homem e todos os atos errados devem ser investigados e punidos de acordo;
- Reparem que no item acima eu disse "investigado", então o fato será INVESTIGADO pelo Ministério Público Estadual que, baseado em investigações e evidências, decidirá se abre processo contra os responsáveis ou não. Então sabia que o responsável por qualquer consequência NÃO É VOCÊ e você NÃO SOFRERÁ MAL ALGUM DA ESPIRITUALIDADE. Exu não vai te derrubar porque você denunciou uma prática errada do médium, muito pelo contrário.
- Denuncie nos órgãos federativos que ajudam na regulamentação dos terreiros. Apesar dessas federações serem mais ausentes do que deveriam, quando são acionadas em relação a esse tipo de situação, acabam se envolvendo mais.
- Associação Brasileira de Religiosos de Umbanda, Candomblé e Jurema - ABRATU - www.abratu.com.br (11 3895-1778 / 11 94779-0822 WhatsApp).
- Federação Brasileira de Umbanda - FBU - www.fbu.com.br (21 2289-3399 / 21 2593-9156 - fbu@fbu.com.br).
- Federação de Umbanda do Brasil - FUB - www.fub.org.br (11 2722-4534 / 11 2253-9377 - info@fub.org.br)
- Ministério Público - LINK PARA DENÚNCIA.
Lembrem-se que 2019 é o ano de Ogum, então quem sabe quem é Ogum e vira as costas para as situações erradas, está virando as costas para Aquele que aplica a Lei de Deus.
Por uma Umbanda mais consciente e por uma sociedade melhor, espero que possamos acabar com esse tipo de situação.
Axé.
Ogunhê!
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