Se existe uma linha de trabalho que amo é a
dos Pretos Velhos. Sempre tive uma admiração enorme pelos vozinhos e vozinhas
por vários motivos: desde a forma de trabalhar, com a serenidade que lhes são
comuns, até pela tranquilidade que eles nos passam de uma forma completamente
natural (lembro que costumava dizer que eles tinham chá de camomila no sangue).
Com todo o respeito e admiração que tenho por rigorosamente todos os guias que
atuma nessa linha, incluindo Pai Tonico, o qual tenho a honra de trabalhar em
parceria, um Preto Velho em especial sempre me chamou a atenção de uma forma
diferente: Pai Joaquim de Angola.

A história do falangeiro desta linha (o
Joaquim de Angola “original”, o qual doutrina todos os demais guias para
atendimento em seu nome) é bastante interessante e reflete como seria seu
trabalho na Umbanda anos após seu desencarne. Nascido em uma pequena aldeia de Angola
(onde hoje é localizada a cidade de Lobito), foi escravizado e trazido para o
Brasil pois apresentava uma condição física diferenciada, além de ter vários
filhos (os colonos enxergavam os escravos robustos e com vários filhos como se
fossem verdadeiros reprodutores, tamanho preconceito e destrato). Apesar de
jovem (sua idade beirava os 30 anos nesta época), Joaquim (que não era o
verdadeiro nome dele, vale a pena lembrar) era uma pessoa com grande
conhecimento na manipulação das ervas e utilizava esse conhecimento não apenas
para promover curas medicinais (o que era relativamente comum entre os
escravos), mas principalmente para trabalhos espirituais.
Com o tempo, ganhando a confiança de todos
seus semelhantes, passou a ser o curandeiro oficial de seu quilombo, o que
chamava a atenção de todos, inclusive dos colonos. Quando a medicina
convencional não dava conta de alguma enfermidade, levavam para que aquele
sábio escravo pudesse fazer suas rezas e mandingas, visando a cura. Essa
prática o fez conhecer mais de perto vários de seus algozes sociais (os colonos
que apoiavam a escravidão) e a fé que cada um deles carregava na Igreja
Católica e Jesus Cristo. Apesar de não ter se convertido a qualquer religião,
Joaquim passou a querer conhecer mais e mais sobre a história daquele
carpinteiro que até seus 33 anos conseguiu mudar o mundo que todos vivem. A
partir daí sua admiração pelo Mestre Jesus ficava mais evidente.
Seu desencarne ocorreu de uma forma bastante
trágica, quando não pôde curar a filha de um importante fazendeiro, que na
época era seu “dono” (sim, os escravos oficialmente tinham donos, por mais
absurdo que isso possa parecer). Aquela criança tinha traçado em seu destino
uma doença que iria lhe custar a vida e não haveria nada e nem ninguém que pudesse
mudar aquilo. Após o falecimento da criança, Joaquim foi açoitado até a morte,
sofrendo na carne e na alma todo ódio que consumia aquele colono.
Ao chegar ao Plano Astral, ainda envolto
aquela sensação de dor, esbravejava perguntando aonde estava Deus, que lhe
deixava desamparado pela vida toda. Aonde estaria a tal Paraíso, que tanto
falavam? A revolta era muita e ali ele permaneceu por tanto tempo que não
conseguiria sequer medir se foram horas, dias, semanas, anos ou décadas. Quando
sua ira abrandou, pediu em oração que Deus pudesse lhe acudir, porque não
poderia ficar ali sozinho, sem poder ajudar mais ninguém. Queria ser útil mesmo
após desencarnado. Nesse momento Joaquim sentiu alguém lhe tocando as mãos; era
Jesus Cristo que veio pessoalmente a pedido do Pai Maior escoltar para sua
futura e definitiva morada (Aruanda) aquele que seria um dos seus mais
simbólicos e importantes trabalhadores: a partir daquele momento, dava início o
processo dentro da Umbanda do, agora sim Pai, Joaquim de Angola.
Pouco se sabe (e nada de realmente pontual foi
dito para mim nesse estudo) sobre as práticas que Pai Joaquim aprendeu em
Aruanda, mas sabemos que se encarnado ele possuía o dom para manipulação das
ervas, enquanto trabalhador da Umbanda ele passou a ser o maior entre os
maiores manipuladores das energias contidas na natureza. Por ter sido o
primeiro Preto Velho a ter a oportunidade de criar uma falange para trabalhar na
Umbanda, atualmente é a maior falange existente (dificilmente entramos em algum
terreiro e não tem ali pelo menos um Pai Joaquim de Angola). Todos os guias de
sua falange possuem um grande conhecimento sobre os assuntos inerentes a magia,
então “o que Pai Joaquim de Angola faz está feito”, como diria o velho dito
sobre ele.
O conhecimento de magia não se limita a magia
branca, mas também o conhecimento do todo tipo de magia de baixa vibração (ou
magia negra). É claro que nunca, sob hipótese alguma, qualquer guia da Umbanda (especialmente
os Pretos Velhos) fariam trabalhos de magia nega, mas para combater é preciso conhecer.
Esse conhecimento veio através de uma das parcerias mais antigas na
Espiritualidade: Exu e Preto Velho. Sim, Pai Joaquim de Angola é considerado mandingueiro
e tem essa alcunha por ser um grande conhecedor da magia de Exu. Se hoje é
relativamente comum escutarmos que determinado guia “veio virado”, isso só
ocorre porque em algum momento Pai Joaquim de Angola decidiu aprender com os
Exus e foi humilde o suficiente para chamar seus compadres quando necessário
durante qualquer trabalho.
Eu disse que Pai Joaquim de Angola não era
necessariamente Joaquim. Seu nome enquanto encarnado pouco importa e só
contribuiria para enaltecer a matéria, e não seu trabalho espiritual. Aquele
falangeiro decidiu usar o nome Joaquim, por várias referências, entre elas o
significado da palavra Joaquim, que é algo como “aquilo que Deus estabelece”.
Pai Joaquim de Angola, portanto, é um mensageiro que traz aos terreiros de Umbanda
tudo aquilo que o Pai Maior determina.
Ah, outra curiosidade: sabe quando chamamos os
Pretos Velhos de vozinhos? Então, é “culpa” de Pai Joaquim de Angola. Segundo
alguns estudiosos, Joaquim seria o nome do avô de Jesus (São Joaquim), por isso
é considerado o “avô de todo os santos”. Como se manifestou como Pai Joaquim de
Angola, as pessoas trouxeram este conceito católico (Joaquim = avô) para nossa
amada religião.
Eu aconselho muito a todos os leitores que
puderem, se consultar com algum guia que atua na falange de Pai Joaquim de
Angola. É uma experiência única e maravilhosa absorver um pouquinho que seja do
conhecimento e do axé dessa linha. Todo meu amor e respeito ao avô dos avôs.
Adorei as almas.
Quer apender a fazer um trabalho de Preto
Velho? Então vamos lá:
A firmeza abaixo deve ser feita
preferencialmente no terreiro onde a pessoa frequenta/trabalha, porém,
dependendo da situação pode ser entregue em algum cruzeiro (lembrando que é
Obaluaiê quem rege esta linha de trabalho) ou, se a pessoa já tiver
familiaridade com firmezas espirituais, pode ser realizada em casa mesmo.
Ingredientes:
1
Alguidar médio
Café
em grãos
1
turmalina negra
1
ametista
21
contas de Nossa Senhora
1
fumo em corda
1
cachimbo (com fumo dentro)
1
xícara com café
Incenso
de guiné
1
vela de sete dias cruzada (preta e branca)
Montagem:
Coloque
os cafés em grãos no alguidar;
No
meio do alguidar coloque a vela de 7 dias;
Do
lado direito coloque a turmalina;
Do
lado esquerdo coloque a ametista;
Circule
com as lágrimas de Nossa Senhora;
Coloque
o pedaço de fumo aonde quiser, de preferência em lugar que fique bonito ao
olhar;
Do
lado de fora do alguidar coloque a xícara com o café;
Quando
a vela de sete dias terminar, você pode trocar e deixar a firmeza “sempre acesa”,
colocando outra velha de sete dias. Se não conseguir, acenda uma vela palito
pelo menos uma vez por semana.
Sempre
que firmar a vela (seja de sete dias ou palito), acenda o cachimbo e de três
baforadas, se concentrando naquilo que quer pedir. O cachimbo pode ficar ao
lado da xícara de café sem problemas.
Pronto,
um ritual bastante simples, mas de muita força se for feito da forma correta. Entre
em contato com o Preto Velho que te protege. Entre em contato com esse lindo
trabalhador de Deus.
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