Crianças (Erês)
Junto com os Caboclos e os Pretos
Velhos, a linha das Crianças (ou Erês, como chamaremos daqui em diante) forma a
tríade principal da Umbanda. Enquanto os caboclos representam a força e os
Pretos Velhos a espiritualidade, os Erês representam a pureza. O processo para
trabalho na Umbanda ocorreu similar aos Pretos Velhos, incluindo o momento do
desencarne, que era comum assassinatos em massa de crianças na época da
escravidão.
Quando desencarnados, já sabendo
da missão de fundação e posterior anunciação da Umbanda, os espíritos das crianças
foram direcionados para Aruanda para que os Pretos Velhos junto com os demais
espíritos elevados, pudessem doutrinar aqueles recém desencarnados para que,
aceitando sua missão, eles também pudessem trabalhar na Umbanda. Assim,
mantendo a ternura e pureza de uma criança, aprenderam a manipular energias e
se transformaram em grandes doutores da magia e, por serem desta forma puros e
poderosos, conseguem entrar em domínios que outras entidades não o fazem.
Da mesma forma que as outras
entidades, a linha dos Erês também possui os falangeiros, que são os primeiros
espíritos doutrinados e que possuem a incumbência de ensinar outros espíritos
desencarnados a trabalharem na linha dos Erês após seus resgates. Existe uma
predileção em resgatar para este trabalho espíritos recém desencarnados de
crianças ou adolescentes, porque apesar do espírito manter as informações das
outras vidas, fica mais forte a impressão da última encarnação. Existem, porém,
casos de adultos desencarnados pelos mais diversos motivos e que são chamados
para o trabalho na linha dos Erês. O falangeiros, porém, foram todos crianças
desencarnadas.
É sempre bom frisar que, apesar
do que muitos imaginam, os Erês se apresentam como crianças e muitas vezes até
são realmente, porém não existe como sequer supor que eles sejam menos
experientes ou devam ser levados menos a sério do que qualquer outra linha.
Relatos dão conta que hoje, no ano de 2018, o Erê que iniciou seu trabalho mais
recentemente no Plano Espiritual tenha 140 anos (data de seu desencarne).
Quando uma Erê se manifesta, saiba que ali se encontra a pureza de uma criança
aliada à experiência da linha mais velha da Umbanda.
Uma curiosidade sobre a linha do
Erês é que, mesmo no Plano Espiritual, são entidades que não podem ser
governadas, apenas tutelada. Por isso muitas vezes quando existe um trabalho
com os Erês num terreiro existe a presença de um Preto Velho, para que possa
ajudar na tutela das entidades com os médiuns, especialmente os mais novos,
visto que pela alegria das crianças e pela sua independência, as vezes as
entidades correm, demoram muito com um assistido mesmo já tendo o atendido e
quando são chamados para “subirem” (ou desincorporarem no médium), acabam
reclamando. A única outra linha independente, que não se governa, é a linha dos
Exús, nossos guardiões.
A Linha dos Erês atua fortemente
também no Candomblé, com conceitos e doutrinas diferentes, e lá é de uma
importância ainda maior, visto que como Orixá não se comunica diretamente
através da fala (como já vimos anteriormente), então cabe aos Erês dar os
recados do Plano Espiritual aos médiuns. Este é um conceito que, por doutrina
pessoal do médium ou do dirigente, existe em alguns terreiros de Umbanda, porém
não há estudos ou relatos de nossos irmãos no Plano Espiritual que indique que
cabe exclusivamente aos Erês a entrega de mensagens aos médiuns, visto que
todas as entidades manifestadas na Umbanda possuem a característica de se
comunicar através da fala.
Quando existe a incorporação de
um Erê, muitas vezes as entidades batem palmas, ou pulam, gritam, correm e até
mesmo choram. Tudo isso (especialmente o choro) serve para de alguma forma
informar à direção da casa algo que está ocorrendo e termos de energia e também
já é uma forma de trabalho do Erê que inicia os trabalhos descarregando seu
médium.
A vasta maioria dos Erês pedem
brinquedos para realizar seus trabalhos. Existe a impressão que eles estão
realmente brincando, mas na verdade estão energizando aqueles objetos e
utilizando-os para alinhar energia do médium, do terreiro e, principalmente,
dos assistidos. Na maioria das vezes o Erê pede para o assistido brincar com
ele; isso ocorre justamente para que exista um alinhamento energético ou, em
muitos casos, um descarrego. Nenhuma “brincadeira” feita por Erê deve ser vista
de forma infantil como seria com uma criança encarnada.
O tamanho do poder dos Erês é
tanto que são as únicas entidades na Umbanda que consegue manipular todos os
elementais (aprenderemos mais para frente o que são e para que servem), algo
que apenas os próprios Orixás conseguem fazer. Quando dizem que um “trabalho de
Erê ninguém desfaz, nem mesmo Exú”, é exatamente por isso. Um Erê tem condições
de manipular todos os elementais e criar uma magia forte o suficiente para ser
mantida pelo tempo que for, ou até ele mesmo ou Deus decidir interromper.
Dito isso é importante frisar que
ter a capacidade de realizar alguma ação por conta do poder que lhe é incumbido
não denota que a entidade fará uso daquilo para práticas erradas. Não existe
Erê que faça magia de baixa vibração. Se fizer, não está doutrinado e, não
estando doutrinado, não faz mais parte da Umbanda. Sendo assim, temos que
respeitá-los, mas de forma alguma temê-los.
O nome Doum também é sempre
atrelado aos Erês, e isso acontece pelo fato de Doum ser referência a um ser
que transita entre os planos materiais e espirituais nos cultos africanos.
Quando uma família tinha filhos gêmeos e posteriormente tinha outro filho, este
filho era chamado Doum e tinha a incumbência de fazer companhia e tomar conta
de seus irmãos mais velhos. Os Erês são associados a Doum justamente por serem
espíritos de crianças que cuidam das pessoas, inclusive das mais velhas.
Características Diversas
A maioria dos Erês, além de
utilizarem brinquedos para trabalhar, também pedem comidas, geralmente doces e
bolos, além de sucos e refrigerante (de preferência guaraná, por ser uma fruta
genuinamente brasileira). Alguns médiuns mais antigos oferecem Aluá (bebida
doce de origem indígena, feita com milho e frutas) ou até mesmo água com açúcar
ao invés do refrigerante.
Erês usam velas para trabalhar,
geralmente nas cores rosa claro, azul claro, bicolor (azul e rosa) ou branca.
Quase todos os Erês pedem uma chupeta para trabalhar. As guia de contas dos
Erês geralmente são nas cores rosa e azul claro, podendo conter também miçangas
brancas. Como são entidades que trabalham junto aos Pretos Velhos, alguns,
especialmente as linhas mais antigas, usam referências às energias de Avôs
(cruz, miçangas brancas e pretas, Lágrima de Nossa Senhora); também podem usar
alguma referência ao Orixá de regência da coroa do médium que trabalha com
aquele Erê.
Alguns Nomes Conhecidos dos Erês
Diferente das demais linhas, todo
Erê trabalha na vibração de algum Orixá, mas não necessariamente adota suas
características, tendo muito mais relação com a linha de trabalho da entidade
em si, ou de seu doutrinamento junto ao médium. Por isso alguns Erês não
possuem um complemento no nome, mas quando existe este complemento, conseguimos
identificar com qual Orixá que ele trabalha (atualmente são raras as
manifestações).
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Mariazinha;
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Joãozinho;
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Pedrinho;
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Zequinha;
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Aninha;
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Mariazinha da Praia (ligação com Iemanjá);
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Caboclo Mirim (ligação com Oxóssi);
·
Toninho;
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