sábado, 15 de setembro de 2018

Erês

Já que é mês de Cosme e Damião, vamos falar dos nosso Erês. O texto abaixo é um trecho da Apostila do Curso de Umbanda ministrado às quartas-feiras na Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar, em Jacareí. 


Crianças (Erês)

Junto com os Caboclos e os Pretos Velhos, a linha das Crianças (ou Erês, como chamaremos daqui em diante) forma a tríade principal da Umbanda. Enquanto os caboclos representam a força e os Pretos Velhos a espiritualidade, os Erês representam a pureza. O processo para trabalho na Umbanda ocorreu similar aos Pretos Velhos, incluindo o momento do desencarne, que era comum assassinatos em massa de crianças na época da escravidão.

Quando desencarnados, já sabendo da missão de fundação e posterior anunciação da Umbanda, os espíritos das crianças foram direcionados para Aruanda para que os Pretos Velhos junto com os demais espíritos elevados, pudessem doutrinar aqueles recém desencarnados para que, aceitando sua missão, eles também pudessem trabalhar na Umbanda. Assim, mantendo a ternura e pureza de uma criança, aprenderam a manipular energias e se transformaram em grandes doutores da magia e, por serem desta forma puros e poderosos, conseguem entrar em domínios que outras entidades não o fazem.

Da mesma forma que as outras entidades, a linha dos Erês também possui os falangeiros, que são os primeiros espíritos doutrinados e que possuem a incumbência de ensinar outros espíritos desencarnados a trabalharem na linha dos Erês após seus resgates. Existe uma predileção em resgatar para este trabalho espíritos recém desencarnados de crianças ou adolescentes, porque apesar do espírito manter as informações das outras vidas, fica mais forte a impressão da última encarnação. Existem, porém, casos de adultos desencarnados pelos mais diversos motivos e que são chamados para o trabalho na linha dos Erês. O falangeiros, porém, foram todos crianças desencarnadas.

É sempre bom frisar que, apesar do que muitos imaginam, os Erês se apresentam como crianças e muitas vezes até são realmente, porém não existe como sequer supor que eles sejam menos experientes ou devam ser levados menos a sério do que qualquer outra linha. Relatos dão conta que hoje, no ano de 2018, o Erê que iniciou seu trabalho mais recentemente no Plano Espiritual tenha 140 anos (data de seu desencarne). Quando uma Erê se manifesta, saiba que ali se encontra a pureza de uma criança aliada à experiência da linha mais velha da Umbanda.

Uma curiosidade sobre a linha do Erês é que, mesmo no Plano Espiritual, são entidades que não podem ser governadas, apenas tutelada. Por isso muitas vezes quando existe um trabalho com os Erês num terreiro existe a presença de um Preto Velho, para que possa ajudar na tutela das entidades com os médiuns, especialmente os mais novos, visto que pela alegria das crianças e pela sua independência, as vezes as entidades correm, demoram muito com um assistido mesmo já tendo o atendido e quando são chamados para “subirem” (ou desincorporarem no médium), acabam reclamando. A única outra linha independente, que não se governa, é a linha dos Exús, nossos guardiões.
A Linha dos Erês atua fortemente também no Candomblé, com conceitos e doutrinas diferentes, e lá é de uma importância ainda maior, visto que como Orixá não se comunica diretamente através da fala (como já vimos anteriormente), então cabe aos Erês dar os recados do Plano Espiritual aos médiuns. Este é um conceito que, por doutrina pessoal do médium ou do dirigente, existe em alguns terreiros de Umbanda, porém não há estudos ou relatos de nossos irmãos no Plano Espiritual que indique que cabe exclusivamente aos Erês a entrega de mensagens aos médiuns, visto que todas as entidades manifestadas na Umbanda possuem a característica de se comunicar através da fala.

Quando existe a incorporação de um Erê, muitas vezes as entidades batem palmas, ou pulam, gritam, correm e até mesmo choram. Tudo isso (especialmente o choro) serve para de alguma forma informar à direção da casa algo que está ocorrendo e termos de energia e também já é uma forma de trabalho do Erê que inicia os trabalhos descarregando seu médium.

A vasta maioria dos Erês pedem brinquedos para realizar seus trabalhos. Existe a impressão que eles estão realmente brincando, mas na verdade estão energizando aqueles objetos e utilizando-os para alinhar energia do médium, do terreiro e, principalmente, dos assistidos. Na maioria das vezes o Erê pede para o assistido brincar com ele; isso ocorre justamente para que exista um alinhamento energético ou, em muitos casos, um descarrego. Nenhuma “brincadeira” feita por Erê deve ser vista de forma infantil como seria com uma criança encarnada.

O tamanho do poder dos Erês é tanto que são as únicas entidades na Umbanda que consegue manipular todos os elementais (aprenderemos mais para frente o que são e para que servem), algo que apenas os próprios Orixás conseguem fazer. Quando dizem que um “trabalho de Erê ninguém desfaz, nem mesmo Exú”, é exatamente por isso. Um Erê tem condições de manipular todos os elementais e criar uma magia forte o suficiente para ser mantida pelo tempo que for, ou até ele mesmo ou Deus decidir interromper.

Dito isso é importante frisar que ter a capacidade de realizar alguma ação por conta do poder que lhe é incumbido não denota que a entidade fará uso daquilo para práticas erradas. Não existe Erê que faça magia de baixa vibração. Se fizer, não está doutrinado e, não estando doutrinado, não faz mais parte da Umbanda. Sendo assim, temos que respeitá-los, mas de forma alguma temê-los.

O nome Doum também é sempre atrelado aos Erês, e isso acontece pelo fato de Doum ser referência a um ser que transita entre os planos materiais e espirituais nos cultos africanos. Quando uma família tinha filhos gêmeos e posteriormente tinha outro filho, este filho era chamado Doum e tinha a incumbência de fazer companhia e tomar conta de seus irmãos mais velhos. Os Erês são associados a Doum justamente por serem espíritos de crianças que cuidam das pessoas, inclusive das mais velhas.

Características Diversas

A maioria dos Erês, além de utilizarem brinquedos para trabalhar, também pedem comidas, geralmente doces e bolos, além de sucos e refrigerante (de preferência guaraná, por ser uma fruta genuinamente brasileira). Alguns médiuns mais antigos oferecem Aluá (bebida doce de origem indígena, feita com milho e frutas) ou até mesmo água com açúcar ao invés do refrigerante.

Erês usam velas para trabalhar, geralmente nas cores rosa claro, azul claro, bicolor (azul e rosa) ou branca. Quase todos os Erês pedem uma chupeta para trabalhar. As guia de contas dos Erês geralmente são nas cores rosa e azul claro, podendo conter também miçangas brancas. Como são entidades que trabalham junto aos Pretos Velhos, alguns, especialmente as linhas mais antigas, usam referências às energias de Avôs (cruz, miçangas brancas e pretas, Lágrima de Nossa Senhora); também podem usar alguma referência ao Orixá de regência da coroa do médium que trabalha com aquele Erê.

Alguns Nomes Conhecidos dos Erês

Diferente das demais linhas, todo Erê trabalha na vibração de algum Orixá, mas não necessariamente adota suas características, tendo muito mais relação com a linha de trabalho da entidade em si, ou de seu doutrinamento junto ao médium. Por isso alguns Erês não possuem um complemento no nome, mas quando existe este complemento, conseguimos identificar com qual Orixá que ele trabalha (atualmente são raras as manifestações).

·         Mariazinha;
·         Joãozinho;
·         Pedrinho;
·         Zequinha;
·         Aninha;
·         Mariazinha da Praia (ligação com Iemanjá);
·         Caboclo Mirim (ligação com Oxóssi);
·         Toninho;

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