A
CARIDADE PRECISA DE RELIGIÃO?
Por mais óbvio que a resposta desta
pergunta possa parecer, alguns religiosos acreditam que não apenas sua religião
é a única que “salva” a pessoa (esta salvação espiritual é questão para outro
capítulo), mas a Caridade só tem valia se estiver vinculada a algum cunho
religioso. Diego Nascimento, estudioso das religiões cristãs e praticante do
protestantismo, acredita que a caridade verdadeira deve ser feita apenas em
nome de Jesus. Baseado neste posicionamento, analisaremos 3 casos pontuais:
Imaginemos um cristão que, de forma
árdua, trabalhando muito todos os dias, se torna ao longo dos anos bilionário.
Este cristão decide fazer uma doação, em vida, de algo em torno de U$40 Bilhões
para a caridade e com isso mudar a vida de centenas de milhares de pessoas ao
redor do mundo. Quando este cristão bilionário morrer, já deixou em testamento
que 90% de sua fortuna será também doada para a caridade.
Outro exemplo é de um médico cristão
que decidiu estudar oncologia, prática a qual lhe rendeu muito dinheiro. Com o
tempo, passou a ser renomado por suas práticas e lançou vários livros que
também lhe renderam bastante recurso financeiro. Esse médico cristão iniciou,
então, uma jornada de trabalho voluntário junto aos detentos do maior presídio
de sua cidade, atuando de forma a conscientizar sobre o uso de drogas e doenças
venéreas, além de tratar os detentos de forma gratuita.
Os exemplos acima mostram de forma
clara como um cristão pratica a caridade, mesmo sendo portador de grande
capacidade financeira. Ou seja, ao bom cristão não existe necessariamente a
soberba por estar em determinada posição social. Nos exemplos dados, frisei
bastante a palavra “cristão” justamente para dar ênfase à característica
religiosa das pessoas, mas vamos fazer um exercício e reler as frases,
substituindo a palavra “cristão” pela palavra “ateu”.
Sim, os dois exemplos são de ateus
bastante conhecidos. Um deles é Bill Gates, fundador e presidente da Microsoft,
e o outro é o médico brasileiro Dráuzio Varella. Ambos declaradamente ateus,
mas portadores de grande generosidade. Esses casos pontuais mostram de forma bastante
clara que a Religião é, sim, algo importante na vida das pessoas, porém a
ausência de religião não denota algum tipo de maldade. Uma pessoa pode ser boa
ou má independente se crê ou não em um Deus. Aliás, é de conhecimento notório
muitos religiosos famosos que utilizam do conhecimento da fé para fazer
justamente o contrário do que a Caridade prega.
O Bispo Edir Macedo, líder da Igreja
Universal do Reino de Deus, é o pastor brasileiro mais rico, com fortuna
pessoal estimada em R$2 Bilhões. As campanhas para doações dos fiéis são
conhecidas nacionalmente, porém não existe uma contrapartida caridosa, ou seja,
nada é voltado para a sociedade de forma efetivamente gratuita e sem esperar
qualquer retorno posterior. A IURD possui atualmente cerca de 7 milhões de
fiéis assíduos.
Na pergunta 886 de O livro dos
Espíritos, Kardec diz que “O
verdadeiro sentido da palavra Caridade, como a entende Jesus, é benevolência
para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das
ofensas”. Para os Espíritos Superiores que Kardec conversou, não há
referência alguma a qualquer prática religiosa para se praticar a Caridade.
A Igreja católica, porém, pensa de
forma diferente, sendo que a Caridade faz parte das “Virtudes Teologais”, que
nada mais são do que virtudes que todo cristão deve ter para entrar em comunhão
com Deus. Há, sim, clara referência religiosa ao formalizar um ato dentro do
Compêndio de Catecismo de uma Igreja, porém trata-se de um posicionamento
milenar da Igreja Católica, então na prática já passou por revisão da
sociedade, faltando apenas ser alterado na formalidade católica, o que demora
séculos.
O Budismo entende a Caridade como algo
próximo da Generosidade, sendo o principal “paramita” que são formas de
evolução, através de generosidade material (ajudar com aquilo que a pessoa tem
aos que pouco tem), generosidade de conhecimento (propagar aquilo que se
conhece com todos) e a generosidade de “tirar os seres de um estado de medo”
(que nada mais é do que consolar ao próximo). Novamente não encontramos
qualquer referência religiosa.
O próprio significado semântico da
palavra Caridade nos revela que é “um
sentimento ou ação altruísta de ajuda a alguém sem buscar qualquer recompensa”.
Para a Umbanda, Caridade é uma notável indicação de elevação moral, além de ser
o principal alicerce da religião. O Caboclo das Sete Encruzilhadas não anunciou
a Umbanda como sendo “Manifestação do
Espírito para converter as pessoas a serem umbandistas e com isso praticarem a
Caridade”, portanto praticar a caridade é, TAMBÉM, obrigação do Umbandista,
mas pode e deve ser praticada por todos, sendo religiosos fervorosos, ou apenas
médicos e empresários ateus e virtuosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário