MAGIA NEGRA
Há muito tempo o uso da magia
negra em algumas vertentes da Umbanda é associado aos Exus e Pomba Gira,
causando uma das maiores controvérsias existentes em nossa religião: as
entidades da Esquerda obedecem a Deus e aos Orixás? Se a resposta for sim,
então como justificar que eles trabalham com o uso de magia que prejudique as
pessoas de alguma forma?
É sempre bom lembrar e frisar que
o mesmo Livre Arbítrio que nós temos, todos os guias também possuem. Não existe
nenhuma forma de forçar que um guia aja desta ou daquela forma, senão pela sua
própria vontade em fazê-lo. Existem Exus que utilizaram de seu conhecimento
para prejudicar alguém? Sim, existe. Isso é comum? Não, de forma alguma. Não há
uma estudo percentual sobre isso, mas a avassaladora maioria de todos os guias
dificilmente caem em tal tentação, ao ponto de interromperem o bom cumprimento
de seu carma e sua natural evolução.
O uso do que chamam de Magia
Negra (ou Goécia) é comum, mas não tem relação necessariamente com maldade.
Esse termo foi condicionado à uma suposta maldade, ou algo diabólico, pela
Igreja Católica. Magia Negra nada mais é do que o uso do conhecimento de
manipulação de energia que podemos aprender, manifestando nossas vontades mais
pessoais, nosso lado obscuro (por isso o termo “negra”). Quando um Preto Velho
dá um passe em um assistido, e consegue causar uma leveza ou algo parecido, ele
nada mais está fazendo do que magia (manipulando energias), porém ele não
precisa recorrer a qualquer tipo de lado obscuro para isso. Via de regra o
Preto Velho utiliza seus conhecimentos de magia para realinhar as energias do
assistido, pois junto com os conselhos, é esta parte de sua missão. Um Exu
quando recebe um pedido para ajudar em alguma situação mais pontual, que
envolve algumas vezes outros espíritos desencarnados que atuam para as trevas
ou que manipularam a energia da pessoa a tal ponto que um simples passe pouco
resolve, tem que utilizar de todo o conhecimento que possui para desfazer algo
de ruim que foi feito, incluindo acessar todo tipo de Magia Negra que tenha
conhecimento, não para prejudicar alguém, mas para combater “fogo com fogo”.
MORAL E ÉTICA DA ESQUERDA
Antes de qualquer coisa,
precisamos entender de forma sucinta, mas assertiva, a diferença entre Ética e
Moral. Ética tem relação ao conjunto de regras de uma sociedade sendo,
basicamente, as leis de um lugar (uma cidade, um país, uma associação, um grupo
de pessoas, etc). Moral tem relação ao conjunto de regras pessoais de cada
indivíduo, não necessariamente compartilhando o que uma Lei, por exemplo,
determina. Moral indica o crescimento pessoal do indivíduo.
A Umbanda possui uma série de
códigos os quais temos conhecimento de uma pequena parte (a que nos cabe e a
que conseguimos entender e praticar). Esses códigos fazem parte da Ética de
Umbanda e todos os trabalhadores espirituais devem segui-los. Não seguir essas
Leis, seriam utilizar seu Livre Arbítrio (é sempre bom reforçar que os Guias
também têm o Livre Arbítrio), porém essa tomada de decisão pode impactar
diretamente seu trabalho na Umbanda e, especialmente, seu crescimento enquanto
indivíduo.
Sempre que agimos de forma
antiética, sofremos cedo ou tarde as consequências de nossos atos. Se cometemos
um crime, a tendência natural é que sejamos presos e condenados mediante o que diz
a lei local. Quando um Guia fere as regras impostas para seu trabalho, ele
receberá as consequências que a Espiritualidade entender ser a melhor para que,
além de pagar pelo que fez, consiga refletir de forma a evitar novos erros.
Dito isso, vale sempre a pena frisar que essa situação é bastante pontual,
sendo raros seus relatos.
Tudo que qualquer Guia que
trabalha na Umbanda faz, é com a permissão Divina. Quem faz o que quer sem
questionar, pelo fato de ter atingido o ápice do que chegamos perto de um vislumbre
de entendimento moral e ético, é Deus e apenas Ele. Só por isso, o argumento de
que Exu não tem moral e faz o que quer, já vai por água abaixo. Exu tem moral,
sim, e segue regras impostas a ele, sim. Pensar diferente disso é ir contra os
fundamentos de nossa religião. O que acontece, porém, é que Exu e Pomba Gira são
trabalhadores que aceitam todo pedido que lhes são feitos. Se o pedido é
prudente e se enquadra no que entendem como o correto a ser realizado, eles os
fazem com a permissão Divina. Se for algo que não deve ser feito, eles não
interferem de forma alguma e, se algum espírito menos desenvolvido quiser fazer
aquele ato que é errado, assim será. O uso do Libre Arbítrio é amplo e irrestrito
e ao Guia da Esquerda não cabe questionar, apenas deixar que aconteça e lá na
frente, se a ele for dada essa incumbência, fará com que quem fez o pedido “errado”
pague pelo seu erro, gerando o equilíbrio que tanto falamos.
Vejamos um exemplo:
João vai a um terreiro e conversa
com um Exu pedindo que ele intervenha em determinada situação. O Exu naquele momento
não sabe o que está acontecendo, se é certo ou errado, e diz que vai trabalhar
naquilo. Ao voltar ao Plano Espiritual, ele percebe que o pedido está errado
por ferir algum princípio ético. Ele decide não fazer nada, mas um espírito de
baixa vibração, com pouco desenvolvimento decida fazer aquilo que foi pedido e
é errado. Como é algo errado, pode dar certo no começo, mas com o tempo a
situação específica deixa de existir. Quando isso acontece, o Exu que se negou
a fazer procura o encarnado que fez aquele pedido e, de alguma forma, faz com
que ele colha aquilo que plantou (ou seja, terá uma consequência ruim pelo seu
pedido errado). Neste momento cabe uma reflexão de quem pediu e, sendo o caso,
evoluir.
Ou seja, todos os envolvidos
utilizaram o seu Libre Arbítrio. O assistido decidiu ir a um terreiro e decidiu
fazer um pedido. O Exu decidiu trabalhar nesse pedido e, vendo que não era o
certo, decidiu não fazer nada. Um kiumba decidiu realizar o que o Exu não quis.
Depois de um tempo o Exu decidiu o que faria com o assistido. No final do
ciclo, o assistido reflete e decide o que fará dali em diante.
Vejam que não se trata de não ter
moral ou ética (muito pelo contrário), mas garantir que o Livre Arbítrio exista
e que, através de suas consequências, haja Equilíbrio em toda existência, que é
a grande função de Exu e Pomba Gira.
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