sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Estudos Sobre a Esquerda - Parte 3


MAGIA NEGRA

Há muito tempo o uso da magia negra em algumas vertentes da Umbanda é associado aos Exus e Pomba Gira, causando uma das maiores controvérsias existentes em nossa religião: as entidades da Esquerda obedecem a Deus e aos Orixás? Se a resposta for sim, então como justificar que eles trabalham com o uso de magia que prejudique as pessoas de alguma forma?

É sempre bom lembrar e frisar que o mesmo Livre Arbítrio que nós temos, todos os guias também possuem. Não existe nenhuma forma de forçar que um guia aja desta ou daquela forma, senão pela sua própria vontade em fazê-lo. Existem Exus que utilizaram de seu conhecimento para prejudicar alguém? Sim, existe. Isso é comum? Não, de forma alguma. Não há uma estudo percentual sobre isso, mas a avassaladora maioria de todos os guias dificilmente caem em tal tentação, ao ponto de interromperem o bom cumprimento de seu carma e sua natural evolução.

O uso do que chamam de Magia Negra (ou Goécia) é comum, mas não tem relação necessariamente com maldade. Esse termo foi condicionado à uma suposta maldade, ou algo diabólico, pela Igreja Católica. Magia Negra nada mais é do que o uso do conhecimento de manipulação de energia que podemos aprender, manifestando nossas vontades mais pessoais, nosso lado obscuro (por isso o termo “negra”). Quando um Preto Velho dá um passe em um assistido, e consegue causar uma leveza ou algo parecido, ele nada mais está fazendo do que magia (manipulando energias), porém ele não precisa recorrer a qualquer tipo de lado obscuro para isso. Via de regra o Preto Velho utiliza seus conhecimentos de magia para realinhar as energias do assistido, pois junto com os conselhos, é esta parte de sua missão. Um Exu quando recebe um pedido para ajudar em alguma situação mais pontual, que envolve algumas vezes outros espíritos desencarnados que atuam para as trevas ou que manipularam a energia da pessoa a tal ponto que um simples passe pouco resolve, tem que utilizar de todo o conhecimento que possui para desfazer algo de ruim que foi feito, incluindo acessar todo tipo de Magia Negra que tenha conhecimento, não para prejudicar alguém, mas para combater “fogo com fogo”.

MORAL E ÉTICA DA ESQUERDA

Antes de qualquer coisa, precisamos entender de forma sucinta, mas assertiva, a diferença entre Ética e Moral. Ética tem relação ao conjunto de regras de uma sociedade sendo, basicamente, as leis de um lugar (uma cidade, um país, uma associação, um grupo de pessoas, etc). Moral tem relação ao conjunto de regras pessoais de cada indivíduo, não necessariamente compartilhando o que uma Lei, por exemplo, determina. Moral indica o crescimento pessoal do indivíduo.

A Umbanda possui uma série de códigos os quais temos conhecimento de uma pequena parte (a que nos cabe e a que conseguimos entender e praticar). Esses códigos fazem parte da Ética de Umbanda e todos os trabalhadores espirituais devem segui-los. Não seguir essas Leis, seriam utilizar seu Livre Arbítrio (é sempre bom reforçar que os Guias também têm o Livre Arbítrio), porém essa tomada de decisão pode impactar diretamente seu trabalho na Umbanda e, especialmente, seu crescimento enquanto indivíduo.
Sempre que agimos de forma antiética, sofremos cedo ou tarde as consequências de nossos atos. Se cometemos um crime, a tendência natural é que sejamos presos e condenados mediante o que diz a lei local. Quando um Guia fere as regras impostas para seu trabalho, ele receberá as consequências que a Espiritualidade entender ser a melhor para que, além de pagar pelo que fez, consiga refletir de forma a evitar novos erros. Dito isso, vale sempre a pena frisar que essa situação é bastante pontual, sendo raros seus relatos.

Tudo que qualquer Guia que trabalha na Umbanda faz, é com a permissão Divina. Quem faz o que quer sem questionar, pelo fato de ter atingido o ápice do que chegamos perto de um vislumbre de entendimento moral e ético, é Deus e apenas Ele. Só por isso, o argumento de que Exu não tem moral e faz o que quer, já vai por água abaixo. Exu tem moral, sim, e segue regras impostas a ele, sim. Pensar diferente disso é ir contra os fundamentos de nossa religião. O que acontece, porém, é que Exu e Pomba Gira são trabalhadores que aceitam todo pedido que lhes são feitos. Se o pedido é prudente e se enquadra no que entendem como o correto a ser realizado, eles os fazem com a permissão Divina. Se for algo que não deve ser feito, eles não interferem de forma alguma e, se algum espírito menos desenvolvido quiser fazer aquele ato que é errado, assim será. O uso do Libre Arbítrio é amplo e irrestrito e ao Guia da Esquerda não cabe questionar, apenas deixar que aconteça e lá na frente, se a ele for dada essa incumbência, fará com que quem fez o pedido “errado” pague pelo seu erro, gerando o equilíbrio que tanto falamos.
Vejamos um exemplo:

João vai a um terreiro e conversa com um Exu pedindo que ele intervenha em determinada situação. O Exu naquele momento não sabe o que está acontecendo, se é certo ou errado, e diz que vai trabalhar naquilo. Ao voltar ao Plano Espiritual, ele percebe que o pedido está errado por ferir algum princípio ético. Ele decide não fazer nada, mas um espírito de baixa vibração, com pouco desenvolvimento decida fazer aquilo que foi pedido e é errado. Como é algo errado, pode dar certo no começo, mas com o tempo a situação específica deixa de existir. Quando isso acontece, o Exu que se negou a fazer procura o encarnado que fez aquele pedido e, de alguma forma, faz com que ele colha aquilo que plantou (ou seja, terá uma consequência ruim pelo seu pedido errado). Neste momento cabe uma reflexão de quem pediu e, sendo o caso, evoluir.

Ou seja, todos os envolvidos utilizaram o seu Libre Arbítrio. O assistido decidiu ir a um terreiro e decidiu fazer um pedido. O Exu decidiu trabalhar nesse pedido e, vendo que não era o certo, decidiu não fazer nada. Um kiumba decidiu realizar o que o Exu não quis. Depois de um tempo o Exu decidiu o que faria com o assistido. No final do ciclo, o assistido reflete e decide o que fará dali em diante.

Vejam que não se trata de não ter moral ou ética (muito pelo contrário), mas garantir que o Livre Arbítrio exista e que, através de suas consequências, haja Equilíbrio em toda existência, que é a grande função de Exu e Pomba Gira.

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