Já terminamos nosso estudo sobre a Esquerda, e o resultado foi muito bacana. Não apenas aqui pelo blog, mas semanalmente na TUOBM (toda quarta) pudemos trocar um pouco de conhecimento sore nossos amados Guardiões.
Eu decidi colocar estudo um pouco mais aprofundados sobre cada uma as linhas de trabalho da Umbanda, e sempre que inicio algum texto, remeto a duas linhas de trabalho: Preto Velho ou Zé Pelintra. Recentemente tenho pensado bastante em Seu Zé, e sua presença se faz cada vez mais nítida comigo. Sendo assim, resolvi seguir minha intuição e vou colocar o estudo que fiz sobre nosso amado Zé Pelintra.
Quem foi? De onde veio? É de Esquerda ou da Direita? Ele é Baiano? Vou tentar responder a maior parte de questionamentos que surgir.
Então, como sempre digo, "comecemos do começo".
INÍCIO - CATIMBÓ E A JUREMA SAGRADA
Em tupi, “fumaça de mato” e em guarani, "vapor de erva”, Catimbó é a palavra que faz referência a práticas milenares de pajés, os quais utilizavam a fumaça de ervas queimadas em seus cachimbos em rituais de cura, da mesma forma que enchiam com o que chamavam de “Espírito de Força” os guerreiros da tribo. Com o passar dos anos, esta prática indígena foi sendo disseminada e cada vez se aproximando mais de vertentes menos ortodoxas do Catolicismo.
Entre os séculos XVI e XVII aconteceram os primeiros trabalhos do que na época era denominado “Culto a Santidade”, que nada mais eram do que manifestações híbridas de práticas católicas e indígenas, com vertente espiritual. Os trabalhos trabalhos eram realizados com a liturgia já conhecida, com rezas apresentadas pelos católicos presentes e o ritual com o cachimbo, trazido pelos índios. Quando a espiritualidade começou a se apresentar naqueles rituais, alguns ensinamentos foram trazidos e, com o tempo, após um maior entendimento de que ali existia uma manifestação religiosa própria, por mais que fosse sincretizada, iniciou-se a religião Catimbó, tendo como base o culto a uma árvore que, segundo a Espiritualidade, e com o respaldo da vivência indígena, era sagrada e nela havia um dos vários instrumentos de Deus para a prática da Caridade: a Jurema passou a ser o símbolo maior do Catimbó desde então.
Parte do ritual do Catimbó traz a ingestão de uma bebida, denominada Vinho da Jurema, feita com a casca da jurema. Essa prática indígena e secular permite um estado de transe tão forte que faz com que as faculdades mediúnicas da pessoa fiquem mais evidentes e, desta forma, facilite a incorporação por entidades espirituais, e foi exatamente o que começou a acontecer, inicialmente com antigos espíritos de índios que tinham o conhecimento dos rituais com uso de ervas queimadas em seus cachimbos. Posteriormente outros espíritos, sem relação alguma direta com os índios, passaram a se manifestar para trazer seu conhecimento ao Catimbó. Existiam manifestações de espíritos de escravos que traziam a palavra de conforto junto a um forte conhecimento de manipulação da energia das ervas, espíritos de ciganos que em vida eram conhecedores das propriedades de cura das folhas. Todas essas entidades manifestadas haviam desencarnado há muito tempo, então a eles era dada a incumbência principal de manipular a energia contida no ritual da queima das ervas.
A grande diferença existente no Catimbó em contraponto aos cultos xamânicos era justamente a divisão dos trabalhos entre esquerda e direita (o que atualmente é comum na Umbanda) , sendo que para trabalhar com guias da esquerda a pessoa precisaria conhecer as propriedades da semente preta da Jurema (a árvore sagrada possui duas qualidades de sementes) e na direita, precisaria conhecer a semente branca. Poucas pessoas conseguiam entender e trabalhar com as propriedades da esquerda no Catimbó, então quando isso acontecia, eram pessoas que notadamente possuíam grande capacidade e, por esta capacidade, eram consideradas mestres encarnados.
Esses mestres quando desencarnavam poderiam voltar a trabalhar no Catimbó, porém desta vez através da incorporação junto aos praticantes da religião. Quando essas entidades voltavam a trabalhar, vinham com um conhecimento muito maior, o que dava sustentação aos trabalhos e era chamadas de Mestres Juremeiros. Algumas dessas pessoas, porém, mesmo quando encarnadas, traziam uma enorme capacidade na manipulação das energias e um conhecimento fora do normal. Essas pessoas eram verdadeiros mestres e atuavam alinhados aos Mestres Juremeiros. Mestre Preá, Mestre Pilão Deitado, Mestra Nani, Mestre Zé Pretinho são exemplo; entre esses mestres estava José dos Anjos. Por sua grande facilidade na manipulação das energias da esquerda, passou a ser conhecido como Mestre Zé Preto.
Zé Preto dedicou boa parte de sua passagem no Catimbó ao atendimento aos pobres e maltrapilhos, o que lhe rendeu posteriormente a alcunha entre o povo, de Zé Preto dos pelintras (que é a palavra que define alguém pobre e que se veste mal), em contrapartida a uma de suas grandes características pessoais, que é a forma sempre elegante de se vestir.
Desde seus primórdios no Catimbó, Zé Pelintra é um exímio trabalhador da Caridade, sendo o grande representante dos pobres e mais necessitados. Lá em Recife em meados do Século XIX iniciou sua jornada perante Deus e nunca a abandonou, pelo contrário, sendo o responsável pela renovação da fé de milhares e milhares de pessoas desde então.
Se no Catimbó teve suas raízes fincadas, foi na Umbanda que se firmou, como veremos adiante
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