OS RITUAIS E OBJETOS MAGÍSTICOS DOS CABOCLOS
É de conhecimento notório que os
índios sempre foram grandes conhecedores das propriedades existentes nas ervas,
plantas e frutos existente nas matas. Como moravam nas ocas encrustadas em mata
fechada, a única solução para praticar a cura em assuntos mais simples do
dia-a-dia era entendendo como manipular cada um daqueles elementos naturais. Se
tomarmos como exemplo a tribo dos Kaiowás (uma das maiores ainda em existência
no Brasil), vemos que desde os mais remotos tempos eles sabem não apenas
cultivar produtos diferentes, como feijão, o milho, a mandioca, batata doce,
entre outros, como conhecem com refinado conhecimento toas as propriedades ali
existentes.
Quando os assuntos apresentados
eram um pouco mais críticos e envolviam desde a cura para doenças graves e até
mesmo rituais de passagens (algo bastante utilizado até hoje nas tribos),
existiam rituais que misturavam danças, queima de ervas (defumação),
manipulação de elementos da natureza e muita reza. Quando esses rituais precisavam
ser realizados, via de regra o religioso (pajé, ñanderus, etc) ingeria alguma
bebida que transportava sua mente para um Plano Superior, onde recebia orientações
e muitas vezes davam a palavra para os espíritos ancestrais. Isso nada mais era
do que uma forma mais antiga de incorporação.
Quando desencarnavam,
especialmente os índios que já tinham conhecimento das práticas de manipulação
das forças da natureza, recebiam a possibilidade de aprender ainda mais e, através
desse aprendizado, trabalhar nas mais diversas religiões dando todo amparo
necessário para a condução, no Plano Espiritual, dos trabalhos realizados pelos
encarnados. Entre essas religiões estava a Umbanda, que seria anunciada daqui
muitos anos.
No Plano Espiritual os índios
desencarnados que aceitaram trabalhar na Umbanda passaram a residir em uma
cidade espiritual (como tantas outras existentes) chamada Humaitá (ou Juremá),
que nada mais é do que uma grande floresta habitada por seres de uma luz
tremenda, os quais dividem seus conhecimentos de manipulação da energia da
natureza, mais especificamente das matas. Esta cidade espiritual é comandada
pela irradiação do Orixá Oxóssi, que é simbolizado na Umbanda pelo Caboclo em
si (um índio negro de arco e flecha) e tem como principal característica o
Conhecimento, a Sabedoria. Justamente pela irradiação de Oxóssi aos caboclos
foi dada a incumbência de anunciar a religião de Umbanda, pois tudo o que
poderia ser questionado sobre a religião seria explicado por aquelas entidades.
A quantidade de tribos indígenas
sempre foi muito grande, o que denotam vários rituais distintos, por isso não
conseguimos dizer que um ritual de Caboclo na Umbanda tem que ser feito desta
ou daquela forma, senão está errado. O falangeiro era um índio quando encarnado
e ele levou para o Plano Espiritual suas práticas ritualísticas, então aprendeu
novos e mais assertivos métodos, porém a essência se mantinha a mesma. O que temos
que ter em mente, porém, são algumas práticas utilizadas nos rituais e o
significado de cada uma delas:
Dança: minha Mãe de Santo, Mara Calegari, sempre diz que Umbanda é
movimento, então nada melhor para movimentar as energias do que dança. Os
índios sempre realizavam suas danças com três propósitos básicos: celebração de
alguma coisa; para louvar à Ancestralidade e para, junto ao louvor, pedir
auxílio aos seus ancestrais.
Quando existe uma dança
consagrada para isso na Umbanda (ou seja, com este objetivo de pedir auxílio ao
Plano Espiritual), é aberto um portal em Humaitá e os Caboclos que estão
preparados para trabalhar na Umbanda se manifestam naquela dança (incorporados
ou não) e prestam o auxílio a que forem designados.
Muitas vezes um Caboclo faz uma
dança mais contida em torno de uma pessoa. Quando isso acontece, o Caboclo está
manipulando as energias contidas naquela pessoa e também estão abrindo naquele
momento um portal para que seus companheiros do Plano Espiritual possam trabalhar
com aquela pessoa. Esses parceiros dos Caboclos podem ser desde guias sendo
treinados para atuarem na linha dos Caboclos, até outros Guias de Luz que nem
ao menos são Caboclos, podendo até mesmo serem Seres Elementais.
Os Caboclos são umas das poucas entidades
na Umbanda com a capacidade de limpar as sujeiras energéticas contidas em um
terreiro da mesma forma que uma defumação, por exemplo. Um Caboclo sozinho
consegue através de sua dança manipular toda as energias de um lugar, deixando
limpo e pronto para um trabalho espiritual, por exemplo.
Bebidas na Cuia: os Caboclos, como já vimos, possuem grande conhecimento
no que tange à utilização de ervas e afins para as mais diversas finalidades.
Apesar de hoje ser um pouco mais raro, há algum tempo era bastante comum os
Guias prepararem bebidas feitas com ervas maceradas e frutas (logicamente,
todas sem nenhuma propriedade alucinógena ou venenosas) e tomavam na cuia, que
é uma espécie de tigela feita da cuieira (árvore de origem amazônica).
É comum quando um Caboclo prepara
sua bebida, assoprar fumaça do fumo que utiliza (charuto, cachimbo, etc). Isso
remete à prática que os antigos índios utilizavam para consagrar a cuia em seus
mais diversos rituais.
Mais para a frente veremos
algumas das principais ervas utilizadas pelos Caboclos, então cada bebida
possui um significado específico e deve ser feita com muita responsabilidade.
Muiraquitã: são objetos utilizados pelas Caboclas de Oxum e nada
mais é do que um amuleto de proteção contra manipulação de magia de baixa
vibração, feito com pedra retirada em noite de lua cheia do fundo de algum rio.
A pedra é entalhada em forma de sapo e geralmente é cruzada pela Cabocla para
uso exclusivo da médium que trabalha com ela.
Pau-De-Chuva: é um instrumento de percussão feito por um pedaço oco
de árvore com sementes em seu inteiro. Quando o objeto é manipulado se faz
presente um som semelhante ao de chuva. É bastante utilizado em rituais de cura
e utilizado via de regra pelos Caboclos cruzados com Oxalá ou Obaluaiê (Pena Verde,
Pena Roxa, etc).
Apitos: os apitos sempre foram utilizados pelos indígenas em
rituais para chamar as entidades espirituais ou, imitando o som dos pássaros,
para invocar os Espíritos da Natureza. Na Umbanda, muitos Caboclos utilizam esse
método para dissipação de energia negativa, porém várias vezes assoviam,
dispensando os apitos.
Maracá: o uso das maracás é comum a quase todas as tribos, portanto
é um dos objetos magísticos mais utilizados pelos Caboclos das mais distintas
linhagens. Para os indígenas seu uso servia para fechamento de corpo, porém para
os Caboclos da Umbanda são utilizados em rituais de proteção do assistido ou
para dissipação de energias de baixa vibração. Em rituais específicos das
Caboclas de Iemanjá, são utilizados para atrair boas vibrações na abertura de
algum novo ciclo que se apesenta.
Uruá: é uma flauta bastante
comprida, que tem como objetivo a condução dos espíritos sofredores que eventualmente
estão obsediando um assistido para o Plano Espiritual. É bastante raro sua
utilização, mas quando acontece é pelas Caboclas de Iansã.
Colares: diferente das guias de contas, que possuem importante uso
não apenas na liturgia umbandista como também servem como captadores de
energias, os Caboclos utilizam colares feitos com sementes, penas e dentes que
servem para diversos fins, entre eles a identificação da linha de trabalho
daquele Guia (Caboclo Pena Verde pode ter penas verdes em seu colar, por
exemplo); servem também como elemento de ligação do Caboclo com o médium e a
Natureza, especialmente quando utilizadas sementes.
Alguns colares são feitos com
dentes de animais. Para os índios, o fundamento era justamente mostrar o grau
de evolução do caçador (o índio que matava uma onça para alimentar seu povo, tinha
o direito de fazer um colar com as presas do bicho). Na Umbanda, os Caboclos
utilizam esse colar para identificação que são Caboclos Feiticeiros, via de
regra atuando na linha de Oxóssi ou Ogum.
Cocar: são adornos utilizados pelos índios na cabeça desde sempre,
tendo uma importância muito grande para quem o uso, e sendo terminantemente
proibido seu uso para quem não mereça. O merecimento está justamente nos atos
que o índio faz que o tornam digno de seu uso, indicando a evolução daquela
pessoa. Na Umbanda, os Caboclos que utilizam na maioria das vezes são de Oxóssi
e têm neste objeto a representação da pena como símbolo do Orixá do Conhecimento.
Infelizmente alguns médiuns compram os cocares sem ter a menor ideia da
importância que tem aquele objeto para o Guia, que muitas vezes sequer pede
para usar.
Os cocares são importantes
objetos magísticos e devem ser bastante respeitados, e não serem utilizados
como mero enfeite do ego do médium.
Arco e Flecha: o mais conhecido símbolo dos Caboclos também é o
símbolo maior de Oxóssi, e representa a abertura de caminhos através do
conhecimento. Por praticidade, a maioria dos Caboclos que trabalham na Umbanda
não utilizam o objeto em si, mas plasmam o arco e a flecha fazendo um
movimento típico como se estivessem realmente mirando em algo e arremessando
suas flechas. Esse ritual faz com que a força que acompanha aquele Caboclo seja
colocada no local de trabalho.






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