terça-feira, 13 de novembro de 2018

Estudo Sobre Preto Velho - Parte 4

MANDINGAS DE PRETO VELHO

Muitas pessoas, mesmo quem nunca tendo ido a um terreiro, já ouviram falar das mandingas dos Pretos Velhos. Geralmente quando alguém fala que vai “fazer uma mandinga” tem uma denotação pejorativa e indica que será realizado algum ato contra alguém, ou uma amarração. Isso nada mais é que puro preconceito, o qual foi alimentado pela ignorância de quem não conhece a verdadeira forma de trabalhar dos amados e amadas vôs e vós. Antes de tudo, precisamos entender o porquê esse nome.

Mandinga é um grupo étnico da África Ocidental, atualmente com mais de 11 milhões de pessoas e que, na época da escravidão, que é quando conseguimos conhece-los melhor, era bem maior. Alguns dos países que mais enviaram escravos para o Brasil eram justamente desta região, como Togo, Nigéria, Congo, etc. A maior parte dos mandingas, no entanto, vieram da Guiné, e eles tinham uma característica bastante curiosa: carregavam consigo pequenos pedaços de couro contendo em seu interior frases do Alcorão, além de objetos distintos, como plantas, ossos humanos, balas de chumbo, moedas de prata, entre outras coisas. Esses pedaços de couro eram fechados costurando uma borda na outra e via de regra eram carregados nos pescoços dos africanos, como se fossem colares.

Esses objetos eram denominados patuás (que significa amuleto no dialeto mandinga), e serviam para ativarem energias de cura para que fossem usadas exclusivamente com os escravos, diante a precariedade da assistência médica a eles naquele período. Inúmeros relatos dão conta que os rituais para consagração desses patuás envolviam desde a defumação com ervas até mesmo enterrar na encruzilhada ao ponto máximo da noite, para receber toda a energia oculta representada pela escuridão.

Muitos dos povos negros que chegavam ao Brasil eram de pessoas com pouco estudo e eram bastante fechados, com pouco contato com outras etnias e, principalmente, com o homem branco. Os mandingas, no entanto, eram conhecidos como tendo uma melhor instrução e, não raro, conheciam a linguagem escrita. Essa condição os aproximavam de uma forma natural dos colonos, os quais tinham interesse em saber mais sobre sua história e seus costumes. O interesse inicial do homem branco era entender para controlar (quem domina o conhecimento sobre o fato sempre tem uma vantagem sob a outra parte), mas com o passar do tempo algumas pessoas passaram a desenvolver interesse pelos rituais de cura que aconteciam e que, muitas vezes, tinham resultado até mesmo superior a medicina convencional. Os mandingas, especialmente os que conseguiam manipular as energias de cura para consagração aos patuás, começaram a ser privados de seu contato até mesmo com os outros escravos, para serem usados como curandeiros particulares dos colonizadores.

Foi nesta época que, visando evitar que novas situações de enclausuramento ocorressem, que os escravos detentores do conhecimento para consagração dos patuás iniciaram em terras tupiniquins um dos seus rituais mais fortes existente, o fechamento de corpo. Este ritual bastante conhecido até hoje, na época tinha como único objetivo manipular a energia da pessoa para evitar que ela pudesse ser alvo dos colonos. Em tese, o ritual visava proteger o escravo ao ponto de “cegar” quem quer que fosse que pudesse fazer algum mal a ele. Diferente do que a maioria das pessoas pensam, “fechar o corpo” não é impedir que a pessoa sofra algum acidente, doença ou algo parecido, mas impedir que outras pessoas (encarnadas ou não) tenham acesso a ela.  Termo correto seria “fechar a visão”.

Um dos escravos mandingas mais conhecido pela arte da manipulação dessas energias veio justamente da Guiné e em determinado momento, por conhecer toda a magia envolvida para consagração dos patuás e fechamento de corpo, se tornou verdadeiro líder entre os escravos. Ao desencarnar, teve a possibilidade de ser o primeiro mandinga a trabalhar na Umbanda para doutrinar outros desencarnados a aprender e a manipular as energias que ele tão bem conhecia em vida. Seu nome de encarnado não tem importância nesse estudo, basta saber que por ser considerado um homem “bento” (benedito, em latim) e ter vindo da Guiné, a ele foi dado a incumbência de reger uma das mais antigas e importantes falanges da Umbanda, a de Pai Benedito da Guiné.

Os Pretos Velhos quando trabalham na Umbanda trazem todo conhecimento ancestral dos africanos mandingas e, diferente do que acontecia quando estavam encarnados, usam esse conhecimento de tudo que é oculto em benefício a todos, sem distinção de credo ou cor. Essa humildade vinculada a uma grande capacidade de manipulação das energias naturais (magia) e um forte vínculo com a Fé, faz com que os Pretos Velhos sejam grandes trabalhadores da Umbanda, servindo de suporte para inúmeros terreiros e, como não poderia ser diferente, pela sua capacidade de atuação, são os grandes companheiros no Plano Espiritual dos Exus.

Trazendo para os dias atuais, a utilização dos patuás acontece de forma distinta, podendo ser utilizados como colares, pulseiras, tornozeleiras e até mesmo levados no bolso ou algo parecido. Qualquer pessoa que tenha o conhecimento necessário e, principalmente, a fé para manipular a energia, pode consagrar um patuá, mas se a consagração for feita por alguma entidade o resultado esperado deverá ser bem maior. Vou colocar abaixo alguns exemplos de patuás e suas utilizações, mas quero deixar bem claro que todo ritual para consagração deve ser feito apenas por pessoas experientes e, se possível, sob a supervisão de algum Guia de Luz:

Patuá para Saúde


1 pedaço de roupa usada pela pessoa
1 Fava
1 Cruz pequena de madeira
1 Moeda antiga
1 Pedra bruta (sem ser lapidada)
7 folhas de guiné
7 folhas de cravo (ou o cravo)
7 folhas de boldo
7 folhas de manjericão
Algodão
Fazer um saquinho com a roupa usada e colocar todos os objetos dentro desse saquinho. As ervas podem estar secas para facilitar a manipulação. Costurar o patuá com uma agulha virgem fazendo alguma oração consagrada a cura (pode ser o que a pessoa conheça, ou um Pai Nosso bem feito).
Enterre o patuá num Cruzeiro das Almas e deixe lá por sete dias, firmando uma vela todos os dias. Após esse prazo, a pessoa deverá portar sempre que possível.


Patuá para Proteção de Criança




1 saquinho branco
Semente de guaraná
Semente de girassol
Semente de 1 maçã
Semente de abóbora
Semente de goiaba
Semente de melão
1 caroço de noz moscada
1 dente de leite da criança ou mecha de cabelo
Balas diversas

Ofereça as balas para várias crianças e guarde as embalagens. Junte as embalagens das balas e todos os objetos dentro do saquinho e costure com agulha virgem. Reze para Cosme e Damião e peça proteção para a criança. Deixe o patuá no travesseiro da criança.

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