quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Estudo Sobre os Caboclos - Parte 3


CABOCLO E OS ORIXÁS

A presença do Caboclo na Umbanda é tão importante que, não só pelo anúncio de nossa religião ter sido feito pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, muitas vezes o guia de frente de um médium umbandista é justamente um Caboclo (normalmente irradiado pelo Orixá de coroa da pessoa). Me lembro que há alguns anos era praticamente padrão os terreiros de Umbanda levarem o nome do Guia de frente do Pai ou Mãe de Santo, então era Tenda Caboclo Pena Branca, Caboclo Tupinambá, Caboclo Cobra Coral... era uma verdadeira aldeia entre os brancos.

Eu disse que o Caboclo é irradiado pelo Orixá, mas o que isso quer dizer? É simples. Cada Caboclo falangeiro (ou seja, aquele indivíduo que teve a missão de criar uma falange, portanto são os mais velhos Guias Espirituais dentro da linha dos Caboclos) teve uma vida encarnada e trouxe para o Plano Espiritual não apenas sua vivência, mas as afinidades energéticas que essa vivência proporcionou. Como estamos falando de pessoas que, via de regra, eram índios, então a afinidade natural deles estava nas matas. Quando tiveram a possibilidade de dar continuidade em seu trabalho, agora na Umbanda, tinham que se alinhar energeticamente com algum Orixá, porém todos eles tinham esse vínculo com as matas. Foi aí que, pela providência Divina, todos os Caboclos e Caboclas foram apadrinhados por Oxóssi. É certo afirmarmos, então, que Oxóssi é quem rege toda a linha dos Caboclos na Umbanda.

O que existe, porém, é um alinhamento do Guia com suas atividades enquanto encarnado, ou com a missão que aceitou cumprir após desencarnado, no Plano Espiritual. Baseado nesse alinhamento energético, nesta afinidade, por assim dizer, cada falangeiro passou a ser irradiado por um Orixá específico, atuando em suas missões espirituais para a Caridade e irradiando aquilo que o Orixá representa. Esse vínculo é tão grande, que quando em um terreiro de Umbanda há a manifestação dos Orixás, na verdade são os Caboclos falangeiros que aparecem para dar o Axé daquele Orixá (diferente do Candomblé, onde há pela ritualística a manifestação do Orixá, na Umbanda não existe essa possibilidade).

Cada Caboclo, portanto, traz consigo a vibração de um ou mais Orixá, e cada um deles possuem características típicas desde a forma de atuação até na missão que a Espiritualidade os incumbiu. Vejamos as características de cada Linha de Caboclo por Orixá:

Caboclos de Oxalá: são guias que tem como missão principal a condução dos trabalhos nos Terreiros, sendo que, diferente de outros, pouco andam ou conversam. Dão bastante passes de energização no consulente e, muitas vezes, os fazem à distância, sem precisar prestar algum tipo de consulta.

Representação artística do Caboclo Tupinambá
Caboclos de Oxóssi: diferente dos Caboclos de Oxalá, essa linha costuma andar bastante quando incorpora no médium e dançam bastante (claro, sempre baseado na parceria existente entre Guia e médium). Sempre dão consulta e possuem grande conhecimento nas palavras. Uma das principais características é apresentar soluções da natureza aos consulentes, como banhos e defumações.
Sendo irradiados por Oxóssi, promovem verdadeiros diálogos, com o intuito de gerar a busca pelo conhecimento do assistido. Dificilmente haverá alguma pergunta feita a um Caboclo de Oxóssi que fica sem resposta. O conhecimento desta linha é tanto que o Caboclo das Sete Encruzilhadas, responsável por anunciar a Umbanda, atua na irradiação de Oxóssi.

Caboclas de Iemanjá: são Guias que atuam com a missão de promover a limpeza dos assistidos para que novos ciclos (sejam eles quais forem) possam ser abertos e abençoados pela Mãe das Águas. Além de aplicarem passes, promovem limpeza espiritual. A incorporação dessas Caboclas geralmente é bastante contida, com uma dança leve e simulando o movimento das ondas do mar com seus braços.

Caboclos de Ogum: possuem no cerne de sua missão principal, trazer ao consulente a possibilidade de abertura de seus caminhos, especialmente no que tange a algo que seja determinante para a vida da pessoa, como emprego, por exemplo. As consultas com esses Caboclos geralmente são bastante diretas, sem muitas explicações sobre o que está sendo feito (claro que, se questionado, eles explicarão).

Quando incorporam, geralmente se ajoelham (em reverência à força de Ogum) e ocorre de forma bastante rápida, sem danças. É bastante comum um assistido se sentir com mais vigor após se consultar com um Caboclo de Ogum, isso se dá pela troca de energia promovida pelo Guia, que doa sua força para quem precisa.

Caboclas de Iansã: são entidades muito parecidas com os Caboclos de Ogum, atuando basicamente na mesma missão. A maior diferença, no entanto, é que as Caboclas de Iansã além de ser diretas no que falam, muitas vezes expõem situações que o assistido está passando e não quer revelar, mas que precisa ser trabalhada para que aconteça a abertura de seus caminhos.
A troca de energia também acontece, porém quando atendem alguém que está em verdadeiro desequilíbrio com a Lei de Deus, fazem com que a pessoa fique incomodada com aquilo e passe a rever as situações que o levaram a este desequilíbrio, até perceberem que erraram ou que tomaram determinada atitude errada. As Caboclas de Iansã são verdadeiras agentes da Lei.

Caboclos de Xangô: são entidades também bastante diretas em suas mensagens e têm a missão principal promover a justiça de Xangô, por isso exigem bastante que seus médiuns sejam justos. Atuam manipulando as energias contidas em determinado assunto que envolva a Justiça de alguma forma (causas judiciais, injustiça no ambiente do trabalho ou em relacionamentos, etc) para que haja o equilíbrio, porém sempre deixam claro que atuam apenas naquilo que não interfira no Livre Arbítrio junto ao Karma da pessoa.
Incorporam de uma forma bastante pesada, geralmente levando os médiuns ao chão tamanha a força que carregam.

Caboclas de Oxum: a grande missão das maravilhosas Caboclas de Oxum é atuar no equilíbrio emocional das pessoas, lidando em casos de depressão e desequilíbrios emocionais. As consultas com as Caboclas de Oxum são maravilhosas por trazerem palavras que remetem ao Amor de Mamãe Oxum, a qual irradiam de forma única sua força.

Caboclos de Obaluaiê: é uma linha muito rara de ver incorporada nas giras, sendo que sua missão principal é trazer a magia oculta dos antigos pajés para a Umbanda. Quando trabalham, a maioria das vezes é para ajudar na dissolução de energias de baixa vibração de um lugar (casa, negócio, terreiro, etc) e não para alguma pessoa especificamente.
Quando incorporam, porém, parecem muito com os Pretos Velhos, vindo arcados e muitas vezes pedindo uma bengala ou cajado para trabalharem.

Caboclas de Nanã: tão raras quanto os Caboclos de Obaluaiê, essas Caboclas possuem a missão de atuar com pessoas, encarnadas ou não, que estão em desequilíbrio com a Evolução Espiritual. Por isso mesmo são responsáveis pelo encaminhamento à Espiritualidade Amiga os espíritos sofredores que eventualmente acompanhem alguém.
Apesar de serem bastante raras nos Terreiros, quando incorporam aconselham bastante sobre os passos que o médium ou o assistido está dando que possa vir de encontro à sua evolução.

CRUZAMENTO DAS LINHAS DE CABOCLO

Como acabamos de ver, cada caboclo possui uma característica específica que remete ao Orixá que o rege. Existe, porém, de forma bastante comum, caboclos que trabalham na linha de dois orixás. Geralmente acontece com o Orixá Oxóssi e algum outro. Quando isso ocorre, a principal característica mantém a do Orixá regente, mas com qualidades do outro Orixá. Para identificar se existe este cruzamento das linhas, ou perguntamos à entidade ou verificamos seu nome de trabalho, e facilmente identificamos o cruzamento. Sempre que existir o início do nome como “Pena”, indica que quem rege é Oxóssi. Alguns exemplos:

Pena Roxa: Oxóssi com Obaluaiê;
Pena Branca: Oxóssi com Oxalá;
Pena Verde: Oxóssi com Oxóssi (as qualidades do Orixá ficam ainda mais evidentes, sendo um caboclo que atua basicamente para prosperidade, de forma muito pontual);



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