CABOCLO E OS ORIXÁS
A presença do Caboclo na Umbanda
é tão importante que, não só pelo anúncio de nossa religião ter sido feito pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas, muitas vezes o guia de frente de um médium umbandista
é justamente um Caboclo (normalmente irradiado pelo Orixá de coroa da pessoa). Me
lembro que há alguns anos era praticamente padrão os terreiros de Umbanda
levarem o nome do Guia de frente do Pai ou Mãe de Santo, então era Tenda
Caboclo Pena Branca, Caboclo Tupinambá, Caboclo Cobra Coral... era uma
verdadeira aldeia entre os brancos.
Eu disse que o Caboclo é
irradiado pelo Orixá, mas o que isso quer dizer? É simples. Cada Caboclo
falangeiro (ou seja, aquele indivíduo que teve a missão de criar uma falange,
portanto são os mais velhos Guias Espirituais dentro da linha dos Caboclos) teve
uma vida encarnada e trouxe para o Plano Espiritual não apenas sua vivência,
mas as afinidades energéticas que essa vivência proporcionou. Como estamos
falando de pessoas que, via de regra, eram índios, então a afinidade natural
deles estava nas matas. Quando tiveram a possibilidade de dar continuidade em
seu trabalho, agora na Umbanda, tinham que se alinhar energeticamente com algum
Orixá, porém todos eles tinham esse vínculo com as matas. Foi aí que, pela
providência Divina, todos os Caboclos e Caboclas foram apadrinhados por Oxóssi.
É certo afirmarmos, então, que Oxóssi é quem rege toda a linha dos Caboclos na
Umbanda.
O que existe, porém, é um
alinhamento do Guia com suas atividades enquanto encarnado, ou com a missão que
aceitou cumprir após desencarnado, no Plano Espiritual. Baseado nesse
alinhamento energético, nesta afinidade, por assim dizer, cada falangeiro
passou a ser irradiado por um Orixá específico, atuando em suas missões espirituais
para a Caridade e irradiando aquilo que o Orixá representa. Esse vínculo é tão
grande, que quando em um terreiro de Umbanda há a manifestação dos Orixás, na
verdade são os Caboclos falangeiros que aparecem para dar o Axé daquele Orixá
(diferente do Candomblé, onde há pela ritualística a manifestação do Orixá, na
Umbanda não existe essa possibilidade).
Cada Caboclo, portanto, traz
consigo a vibração de um ou mais Orixá, e cada um deles possuem características
típicas desde a forma de atuação até na missão que a Espiritualidade os incumbiu.
Vejamos as características de cada Linha de Caboclo por Orixá:
Caboclos de Oxalá: são guias que tem como missão principal a
condução dos trabalhos nos Terreiros, sendo que, diferente de outros, pouco andam
ou conversam. Dão bastante passes de energização no consulente e, muitas vezes,
os fazem à distância, sem precisar prestar algum tipo de consulta.
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Representação artística do Caboclo Tupinambá |
Caboclos de Oxóssi: diferente dos Caboclos de Oxalá, essa linha
costuma andar bastante quando incorpora no médium e dançam bastante (claro,
sempre baseado na parceria existente entre Guia e médium). Sempre dão consulta
e possuem grande conhecimento nas palavras. Uma das principais características
é apresentar soluções da natureza aos consulentes, como banhos e defumações.
Sendo irradiados por Oxóssi, promovem
verdadeiros diálogos, com o intuito de gerar a busca pelo conhecimento do
assistido. Dificilmente haverá alguma pergunta feita a um Caboclo de Oxóssi que
fica sem resposta. O conhecimento desta linha é tanto que o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, responsável por anunciar a Umbanda, atua na irradiação de
Oxóssi.
Caboclas de Iemanjá: são Guias que atuam com a missão de promover a
limpeza dos assistidos para que novos ciclos (sejam eles quais forem) possam ser
abertos e abençoados pela Mãe das Águas. Além de aplicarem passes, promovem limpeza
espiritual. A incorporação dessas Caboclas geralmente é bastante contida, com
uma dança leve e simulando o movimento das ondas do mar com seus braços.
Caboclos de Ogum: possuem no cerne de sua missão principal, trazer
ao consulente a possibilidade de abertura de seus caminhos, especialmente no
que tange a algo que seja determinante para a vida da pessoa, como emprego, por
exemplo. As consultas com esses Caboclos geralmente são bastante diretas, sem
muitas explicações sobre o que está sendo feito (claro que, se questionado,
eles explicarão).
Quando incorporam, geralmente se
ajoelham (em reverência à força de Ogum) e ocorre de forma bastante rápida, sem
danças. É bastante comum um assistido se sentir com mais vigor após se
consultar com um Caboclo de Ogum, isso se dá pela troca de energia promovida
pelo Guia, que doa sua força para quem precisa.
Caboclas de Iansã: são entidades muito parecidas com os Caboclos de
Ogum, atuando basicamente na mesma missão. A maior diferença, no entanto, é que
as Caboclas de Iansã além de ser diretas no que falam, muitas vezes expõem
situações que o assistido está passando e não quer revelar, mas que precisa ser
trabalhada para que aconteça a abertura de seus caminhos.
A troca de energia também
acontece, porém quando atendem alguém que está em verdadeiro desequilíbrio com
a Lei de Deus, fazem com que a pessoa fique incomodada com aquilo e passe a
rever as situações que o levaram a este desequilíbrio, até perceberem que
erraram ou que tomaram determinada atitude errada. As Caboclas de Iansã são
verdadeiras agentes da Lei.
Caboclos de Xangô: são entidades também bastante diretas em suas
mensagens e têm a missão principal promover a justiça de Xangô, por isso exigem
bastante que seus médiuns sejam justos. Atuam manipulando as energias contidas
em determinado assunto que envolva a Justiça de alguma forma (causas judiciais,
injustiça no ambiente do trabalho ou em relacionamentos, etc) para que haja o
equilíbrio, porém sempre deixam claro que atuam apenas naquilo que não
interfira no Livre Arbítrio junto ao Karma da pessoa.
Incorporam de uma forma bastante
pesada, geralmente levando os médiuns ao chão tamanha a força que carregam.
Caboclas de Oxum: a grande missão das maravilhosas Caboclas de Oxum
é atuar no equilíbrio emocional das pessoas, lidando em casos de depressão e
desequilíbrios emocionais. As consultas com as Caboclas de Oxum são
maravilhosas por trazerem palavras que remetem ao Amor de Mamãe Oxum, a qual
irradiam de forma única sua força.
Caboclos de Obaluaiê: é uma linha muito rara de ver incorporada nas
giras, sendo que sua missão principal é trazer a magia oculta dos antigos pajés
para a Umbanda. Quando trabalham, a maioria das vezes é para ajudar na
dissolução de energias de baixa vibração de um lugar (casa, negócio, terreiro,
etc) e não para alguma pessoa especificamente.
Quando incorporam, porém, parecem
muito com os Pretos Velhos, vindo arcados e muitas vezes pedindo uma bengala ou
cajado para trabalharem.
Caboclas de Nanã: tão raras quanto os Caboclos de Obaluaiê, essas
Caboclas possuem a missão de atuar com pessoas, encarnadas ou não, que estão em
desequilíbrio com a Evolução Espiritual. Por isso mesmo são responsáveis pelo
encaminhamento à Espiritualidade Amiga os espíritos sofredores que eventualmente
acompanhem alguém.
Apesar de serem bastante raras
nos Terreiros, quando incorporam aconselham bastante sobre os passos que o médium
ou o assistido está dando que possa vir de encontro à sua evolução.
CRUZAMENTO DAS LINHAS DE CABOCLO
Como acabamos de ver, cada caboclo
possui uma característica específica que remete ao Orixá que o rege. Existe,
porém, de forma bastante comum, caboclos que trabalham na linha de dois orixás.
Geralmente acontece com o Orixá Oxóssi e algum outro. Quando isso ocorre, a
principal característica mantém a do Orixá regente, mas com qualidades do outro
Orixá. Para identificar se existe este cruzamento das linhas, ou perguntamos à
entidade ou verificamos seu nome de trabalho, e facilmente identificamos o
cruzamento. Sempre que existir o início do nome como “Pena”, indica que quem
rege é Oxóssi. Alguns exemplos:
Pena Roxa: Oxóssi com Obaluaiê;
Pena Branca: Oxóssi com Oxalá;
Pena Verde: Oxóssi com Oxóssi (as
qualidades do Orixá ficam ainda mais evidentes, sendo um caboclo que atua
basicamente para prosperidade, de forma muito pontual);
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